Adoro o silêncio e o ar de preguiça dessas manhãs do primeiro dia da semana.
Mas hoje não está sendo um dia como os demais. Ontem completaram-se exatos três meses desde que a mamãe se foi.
Estranha, a dor da perda. Dói muito, suaviza um pouco, desaperta, volta a sufocar, tira o fôlego, dá uma folga… Nunca se tem um dia igual ao outro.
De súbito, sem aviso, o coração aperta.
Vai ver é a lembrança de um sorriso fugaz, o som da voz ou uma risada parecida. Às vezes a gente nem sabe se são reais ou se vieram da imaginação.
Aí o tempo muda: mesmo a gente estando no sol um frio gélido entra na alma, um desamparo negro faz tropeçar o coração, a voz some na garganta onde só cabe um soluço entrecortado.
Nunca mais… Duas palavras tão simples, pequenas, aparentemente inócuas.
Mas como dói pensar que nunca mais vou ouvir a sua voz nem rir das suas preocupações.
Nunca mais as suas manias, tão diferentes das minhas. Nunca mais trazê-la pra minha casa e fazer almoço e jantar e café da manhã só pra alegrá-la e ouvi-la dizer que se sentia uma rainha.
Nunca mais ela e a Laurinha, minha neta caçula, brincando com a maior seriedade. Ela, eterna professora, ensinando as letras pra Laura: “P de papai, M de mamãe, B de Bá”…
Nunca mais a sua teimosia: quando ia ao médico, selecionava aquilo no que acreditaria e até os remédios que tomaria. E ainda assim, os médicos a adoravam e riam carinhosamente dela. No retorno, sempre perguntavam quais dos remédios ela tomara…
Nunca mais o seu colo universal, simbólico, maternal, sempre pronta a animar e a emprestar força quando ela faltava.
Nunca mais por aqui, e para sempre “no andar de cima”, como ela chamava a outra vida.
Seja feliz, mamãe!