Lá se foram – o menino correndo e a mãe seguindo atrás. De repente, uma carruagem majestosa e puxada por lindos cavalos brancos apareceu na estrada. Dentro estava uma formosa dama envolta em sedas, cheia de joias e com algumas plumas nos cabelos escuros. O pequeno correu à carruagem e perguntou à senhora: ‘Você é um anjo?’ Ela nem respondeu, apenas resmungou alguma coisa ao cocheiro que, chicoteando os cavalos, os fez sumir na curva da estrada.
O menino ficou coberto de poeira. Em seguida, esfregou os olhos, tossiu bastante e perguntou à mãe: ‘Não era um anjo, não é, mamãe?’ Ela respondeu-lhe sorrindo: ‘Com certeza não, meu filho. Mas um dia poderá se tornar um!’
Mais adiante, uma jovem belíssima, num vestido branco, encontrou o menino. Seus olhos eram como estrelas azuis, e ele lhe perguntou: ‘Você é um anjo?’ Ela ergueu o garoto em seus braços e falou feliz: ‘Uma pessoa muito especial me disse ontem à noite que eu era um anjo!’ E enquanto o menino empolgado a beijava, a jovem viu seu namorado chegando. Tentou se livrar rapidamente da criança e, como não conseguiu se firmar nos saltos dos sapatos, foi ao chão.
‘Olhe, você sujou meu vestido branco, seu monstrinho!’ – disse ela, enquanto corria ao encontro do seu amado. O menino ficou chorando, até que sua mãe chegou e lhe enxugou as lágrimas com seu avental de algodão azul. O garoto abraçou o pescoço da mãe e disse-lhe: ‘Aquela moça também não era um anjo. Estou cansado, você me carrega?’
E voltaram para casa cantando: “Se acontecer um barulho perto de você, é um anjo chegando para receber suas orações e levá-las a Deus…” À noite, depois que rezaram e já iam dormir, a mãe ainda teve que responder mais esta pergunta do filho: ‘Mãezinha, você é meu anjo, não é?’ E cheia de sabedoria, ela explicou: ‘Não, meu amor, o seu anjo veio do Céu e foi Deus quem o enviou. Eu também tenho o meu anjo da guarda, que me ajuda a ser a sua protetora humana aqui na Terra e doar a minha vida por você – se for preciso. Agora, vá dormir e diga bom dia ao seu anjinho assim que acordar amanhã.’
Este é um conto simples, singelo e mais bonito quando temos a oportunidade de catequizar as crianças e ensinar-lhes o quanto Jesus e Nossa Senhora nos amam. Mas, com certeza, sempre surgem comparações entre as coisas do Céu e da Terra – como o anjo que o menino procurava na estrada. No caso da história, a grande diferença entre os anjos e os seres humanos está no fato de que os enviados de Deus nunca nos decepcionam, enquanto os homens sim.
No entanto, da mesma maneira que acusamos algumas pessoas de agirem errado conosco, também estamos sendo julgados por terceiros: pela nossa incoerência nas palavras, pelas nossas atitudes impróprias, pelo nosso egoísmo, pelas ambições, vaidades etc. O melhor seria que mudássemos de comportamento e déssemos o exemplo de não mais julgar ninguém.
Não restam dúvidas de que essa virtude de compreender melhor as pessoas requer humildade, mansidão no coração e muita oração, mas não é impossível de se conseguir – vindo a praticar sempre. Eu tenho tentado melhorar em aceitar todos como são e, quanto mais tento, mais preciso exercitar o perdão e também mais sinto o meu anjo da guarda me aconselhando a persistir nesse caminho.
Embora eu ainda esteja longe de ser o modelo de virtudes que Deus gostaria de ver em mim, posso testemunhar que quem vive procurando os caminhos do bem, da verdade e do amor, desfruta de muito mais alegrias do que decepções. Quando alguma coisa parece não ter conserto, acontece uma graça Divina e tudo volta ao normal.
E tentando concluir este artigo, peguei um semanário litúrgico para buscar algumas palavras de salvação. O tema de uma referida missa foi: ‘Deus muito perdoa a quem mostra muito amor’ e, no Evangelho (Lc 7, 36-50), Jesus deixa claro que aquele que mais perdoa será também sempre mais amado por todos.
Portanto, para fazer o papel de um anjo de Deus na construção de seu Reino e, um dia, conhecer os verdadeiros anjos e santos no Céu, lembre-se destes conselhos (que também obtive no folheto litúrgico que citei): “A autossuficiência mata a pessoa por dentro e por fora. Por isso, nas comunidades cristãs, não pode haver exclusões de pessoas nem arrogância, para que todos sejam sinais transparentes da bondade de Deus.”
Sempre que isso acontecer, juntamente com os anjos e os santos, poderemos dizer: ‘Glória e louvor ao Pai, que em Cristo nos reconciliou!’
Paulo R. Labegalini
Vicentino, Ovisista e Cursilhista de Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre – MG).