Uma senhora estava molhando o jardim de sua casa quando foi interpelada por um garotinho de 9 anos, dizendo:
– Dona, tem pão velho?
– Se está com fome, posso dar um jeito. Onde você mora?
– Depois do zoológico.
– Bem longe daqui, hein? Você está na escola?
– Não. Minha mãe não tem dinheiro para comprar material.
– E seu pai, mora com vocês?
– Já faz tempo que ele sumiu!
– Antes do pão, quero que você me conte um pouco de sua vida, de seus irmãos…
E o papo prosseguiu. A bondosa senhora jogou água nos pés do menino, deu-lhe uma toalha para se enxugar e sentou-se alguns minutos ao seu lado. Depois, disse-lhe sorrindo:
– Vou buscar alimento. Serve pão novo?
– Não precisa, não. A senhora já conversou bastante comigo, isso é suficiente. Vou andando e volto amanhã. A que horas a senhora estará aguando estas plantas novamente?
A resposta caiu como um raio. Ela teve a sensação de ter absorvido toda a solidão e a falta de amor daquela criança sem sonhos, sem comida, sem escola e tão necessitada de uma conversa amiga. Deu-lhe um abraço e pediu que voltasse no dia seguinte, às nove da manhã, para tomarem café juntos.
Que poder mágico tem o gesto de falar e ouvir com amor, não? Por acaso, você já ouviu isto de alguém: ‘Não preciso de mais nada hoje. Já conversou bastante comigo, isso é suficiente’? Há quanto tempo você sabe que os pobres só ganham ‘pão velho’? Apenas o ‘pão de amor’ não fica velho, porque é fabricado no coração de quem acredita Naquele que disse: “Eu sou o pão da vida!”
Bem, voltando à história, assim que o menino pobre veio para tomar café, a senhora contou-lhe um pouco de sua própria vida, assim:
“Quando eu era muito jovem, minha mãe me perguntou qual era a parte mais importante do corpo. Eu achava que o som era muito importante para nós, seres humanos, então eu disse: ‘as orelhas, mãe’. Ela discordou: ‘Não, muitas pessoas são surdas. Mas continue pensando sobre este assunto que em outra oportunidade eu volto a lhe perguntar’.
Algum tempo se passou até que minha mãe me questionou outra vez sobre aquilo. Desde que fiz minha primeira tentativa, eu imaginava ter encontrado a resposta correta, assim, dessa vez eu lhe disse: ‘Mãe, a visão é muito importante para todos, então, deve ser os olhos’. Ela falou: ‘Você está aprendendo rápido, mas a resposta ainda não está correta porque há muitas pessoas que são cegas’.
Pensei: ‘Dei mancada novamente!’ Continuei minha busca ao longo do tempo, minha mãe me perguntou em várias outras oportunidades e, sempre que eu opinava, sua resposta era a mesma: ‘Não, mas você está ficando mais esperto a cada ano’.
Então, um dia, meu avô morreu. Todos choravam. Até mesmo meu pai chorou! Eu me recordo bem porque tinha sido apenas a segunda vez que eu o via chorar. Quando fui dar o meu adeus final ao vovô, minha mãe olhou para mim e me perguntou: ‘Você já sabe qual a parte do corpo mais importante?’ Eu fiquei meio chocado por ela me fazer aquela pergunta naquele momento! Eu sempre achei que era apenas um jogo entre ela e eu.
Observando que eu estava confusa, ela me disse: ‘Esta pergunta mostra como você viveu realmente a sua vida. Para cada parte do corpo que você citou no passado, eu lhe disse que estava errada e lhe dei um exemplo que justificava. Hoje é o dia que você necessita aprender esta importante lição’.
Então, ela me olhou de um jeito que somente uma mãe pode fazer. Eu vi lágrimas em seus olhos quando disse: ‘Minha querida, a parte do corpo mais importante é o seu ombro’. Eu estranhei e lhe perguntei: ‘Porque eles sustentam minha cabeça?’ Ela respondeu: ‘Não, é porque pode apoiar a cabeça de um amigo ou de alguém muito amado que chora. Todos precisam de um ombro para chorar em algum momento da vida! Eu espero que você tenha bastante amor, amigos e que tenha sempre um ombro para chorarem quando precisarem’.
Então, eu descobri que a parte do corpo mais importante não é indiferente à dor dos outros. Portanto, meu querido amiguinho, nunca se esqueça disso: ‘As pessoas se esquecerão do que você disse, se esquecerão de muita coisa que você fez, mas nunca se esquecerão de como você as amparou’. Os bons amigos são como estrelas: você nem sempre as vê, mas sabe que sempre estão lá.”
Agora, leitor(a), reflita comigo:
Não é verdade que, no jardim da infância, a ideia de um bom amigo era a pessoa que segurava a sua mão quando passavam por lugares que davam medo? No primário, o grande amigo não era a pessoa que dividia o lanche quando você esquecia o seu? E no ginásio, o bom amigo não era aquele que ajudava a enfrentar o fortão da escola? Os critérios vão mudando, não?
Talvez, hoje, sua ideia de um bom amigo seja a pessoa que lhe passa confiança, desfaz planos para arranjar tempo para você, ajuda a consertar seus erros, sorri quando você está triste e, acima de tudo, ama você de verdade! Tudo isso se resume no ‘ombro amigo’, certo?
Portanto, entre seus amigos, coloque sempre em primeiro lugar o maior de todos… aquele que lhe dá ‘pão novo’… aquele que lhe oferece os dois ombros… aquele que lhe entrega o coração… aquele que se faz pobre à sua porta… Jesus Cristo! Quem o conhece, não o troca por outros, jamais!
Ø Paulo R. Labegalini
Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre – MG).
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