Após uma breve pesquisa, inicio este artigo sobre os autores sagrados dos Evangelhos.
Toda teologia do Antigo Testamento se centra em ‘Javé, o único Deus’, e, na época de Cristo, todos deveriam praticar 613 mandamentos: 365 proibições e 248 orientações positivas; o que, convenhamos, era muito complicado até para memorizar. Então, Jesus simplificou tudo: “Ame a Deus na totalidade e o próximo como a si mesmo”.
São Mateus foi instrumento do mais longo e daquele que é considerado o Evangelho da Igreja – escrito na Palestina, entre os anos 70 e 80, para os cristãos provenientes do judaísmo. Contém sete partes: prólogo, cinco livrinhos e conclusão. O autor insiste no tema ‘justiça’, apresenta Jesus como Emanuel – Deus está conosco! – e sempre cita as promessas do Antigo Testamento – cumpridas para formar o Reino dos Céus.
Mateus chamava-se Levi, filho de Alfeu, e era cobrador de impostos – odiado pela população. Quando se encontraram, Jesus apenas lhe disse: “Segue-me”, e ele se tornou um dos doze. A partir de então, participou da vida pública do Mestre e testemunhou seus ensinamentos de amor e justiça: “Quero misericórdia e não sacrifício”. Considerando as profissões de hoje, diríamos que foi o repórter da época.
Já um dos objetivos do Evangelho de São Marcos é responder a pergunta: ‘Quem é Jesus?’ Embora o autor nos deixe chegar à conclusão, um centurião romano conclui ao vê-lo morrer: “De fato, esse homem era o Filho de Deus”. Todo o texto sagrado foi escrito em Roma, entre 65 e 70, após o martírio de Pedro e Paulo. É o mais curto dos Evangelhos e, também, o mais simples de compreensão.
Marcos ressalta que Jesus começou a pregação pela Galileia, onde só havia marginais, dizendo: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. O autor também apresenta a luta entre o bem e o mal e quase não cita o Antigo Testamento. Faz narrações dos milagres, da conversão da multidão – “todos ficaram admirados!” – e, depois, mostra muitas reflexões de Jesus com os apóstolos antes da morte. Pedro chamava este evangelista de ‘meu filho’.
São Lucas enfatizou o tema da ‘misericórdia’. Escreveu seu Evangelho por volta do ano 80, após a destruição de Jerusalém e, entre os três sinóticos – Marcos, Lucas e Mateus –, foi o último a ser escrito. Também foi autor dos Atos dos Apóstolos, apoiado na autoridade de Paulo, de quem era companheiro fiel até mesmo no cativeiro. No Evangelho, onde tudo converge para Jerusalém, mostrou o ‘caminho de Jesus’ e, nos Atos, onde tudo parte de Jerusalém, relatou ‘o caminho da Igreja’. Juntando os dois textos, o evangelista apresentou o ‘caminho da salvação’.
Lucas era médico, de origem pagã e o único não judeu. Não fez parte dos doze, mas foi discípulo dos apóstolos e um grande pesquisador da história que viveram. Portanto, não viu Jesus em vida, assim como Paulo, mas O apresenta na Escritura como ‘Salvador de todos os povos e cheio de misericórdia para com os pecadores’. Enfatiza a necessidade da oração e foi o maior biógrafo de Nossa Senhora e do Menino Jesus. Pregou até os 84 anos.
O Evangelho Espiritual de São João – rico em símbolos, imagens e linguagem do amor – apresenta Jesus como o ‘Cordeiro de Deus, Servo que tira o pecado do mundo’. Não escreveu aos pagãos, mas aos cristãos, enfatizando o mistério da Encarnação. Foi o último dos quatro a ser escrito, entre os anos 90 e 100, contendo dois capítulos e quase sem parábolas. Escreveu, ainda, o Livro do Apocalipse e três cartas.
Era filho de Zebedeu e Salomé, irmão de Tiago apóstolo, pescador, o mais novo dos doze e também aquele que o Mestre mais amava. Inicia os seus Escritos dizendo que ‘Jesus é Deus no meio de nós’, e todo o Evangelho é marcado pelos sete milagres: as bodas de Caná; as curas do filho do funcionário real, do paralítico e do cego de nascença; a ressurreição de Lázaro; a multiplicação dos pães; e Jesus caminhando sobre as águas. João destaca dois sacramentos como centro do seu Evangelho: a Eucaristia, representada pelo sangue; e o Batismo, tendo a água como símbolo.
Há uma história de um menino que se levantou cedo disposto a preparar uma surpresa para os pais. Queria fazer panquecas, mas, ao abrir o armário, acabou derrubando a lata de farinha no chão da cozinha. Percebeu o pai chegando, tentou limpar tudo depressa e acabou inteiro branco. Vendo o filho assustado, ao invés de dar-lhe uma surra, o pai o abraçou e o beijou.
É assim que somos tratados por Deus quando causamos alguma confusão. Ele nos coloca no colo e, apesar de nossas bagunças, sempre nos perdoa; porém, já é hora de conhecermos melhor os Evangelhos para termos certeza do tipo de ‘surpresa’ que mais agrada o Salvador.
Paulo R. Labegalini
Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre – MG).