É certo que muita coisa mudou. É notável identificar milhares de pessoas se movimentando, por meio de ONGs, associações e institutos, trabalhando em prol do desenvolvimento sustentável, mais humano e igualitário. Porém, igualmente é certo que isso ainda parece ser ocorrer de modo esporádico, de uns poucos, que querem se dedicar a uma causa. Essas ações deveriam ser de todos nós; uma atitude de vida!
Não que essas atitudes fossem suficientes para a necessária transformação de nossa sociedade. Lamentavelmente, não são. Uma sociedade como a nossa, politicamente estruturada como uma democracia representativa, só se transforma por força dessa mesma sociedade.
Apenas os agentes públicos, democraticamente eleitos pelo povo podem, e devem, tomar medidas que irão ao encontro das legitimas aspirações do povo. Sob este aspecto, o que vemos?
Apesar dos avanços, a falta de participação comunitária impede o cidadão de desfrutar seus direitos fundamentais. E qual a nossa responsabilidade sobre isso? Será que não estamos criando em nossas escolas, faculdades, empresas, grupos de discussão, uma mentalidade profundamente utilitarista? Que deve viver apenas para ganhar, acumular, empreender em benefício próprio e depois, se sobrar algo, doar ou distribuir? Prevalecendo a cultura do “primeiro eu” e depois, talvez, o bem comum.
Será que a nossa sociedade não mudaria para melhor se testemunhos de justiça, fraternidade, caridade, amor ao próximo, ajuda aos necessitados fossem priorizados em lugar da ambição, poder, ganância, acúmulo e egoísmo? Será que as empresas não ganhariam mais, e não teriam resultados mais sustentáveis, se participassem socialmente, por meio de ações concretas de melhorias para o ser humano e para o meio-ambiente?
O fato é que hoje estamos voltados para a prática do individualismo, com uma grande alienação social – eu apenas vivo, porém não pertenço a nada – o importante é ter e não ser. Cada um que cuide de si. Estamos a caminho de um caos social.
A transformação deve ser um trabalho de todos. Afinal, uma sociedade é apenas o reflexo dos seus membros e os governantes (igualmente um reflexo) desta sociedade.
Celso Luiz Traccoé economista e escritor, autor do livroÀs Margens do Ipiranga– a esperança em sobreviver numa sociedade desigual.