Então, também por este motivo, eis parte da mensagem de Ano Novo que o mesmo sacerdote leu numa missa de final de ano na Comunidade Nossa Senhora do Sagrado Coração:
“Mudamos alguma coisa passando de um ano para o outro? Os dias depois de 1º de janeiro são diferentes dos dias anteriores a 31 de dezembro?
Nosso poeta Drummond, encantado com este mistério assim falara do ano novo: ‘Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente’.
Chamar este ano de ano velho não é uma ofensa pra quem conviveu conosco 365, na alegria e na tristeza? Cantar ‘adeus ano velho’ para ele não é uma forma cruel de despachar um companheiro de todas as horas, de todos os minutos e de todos os segundos? Cantar ‘Feliz Ano Novo’ não é uma forma excessivamente rápida de esquecer o passado e se envolver com o que chega?
No salmo 89 assim canta o salmista: ‘Ensinai-nos a contar os nossos dias, e dai ao nosso coração sabedoria!’ O desafio da passagem do ano não é a contagem dos dias que se passaram ou dos dias que faltam, mas aprender a saborear os dias vividos e a salivar pelos dias que se aproximam. Santo Inácio de Loyola dizia: ‘Porque não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear as coisas internamente’. Plagiando este mestre espiritual, poderíamos dizer que não são os muitos anos vividos que saciam a vida, mas a capacidade de sentir e saborear as experiências vividas.
Imagino a passagem de um ano para o outro como o encontro do idoso com a criança. O idoso não é um velho nem é um ultrapassado, mas é alguém que traz a experiência do vivido, tão respeitado nas culturas antigas. A criança não nasce instantaneamente, mas desde a concepção vai sendo gerada. Antes mesmo de ser gerada no ventre, vai sendo gerada no coração e no sonho de muitos homens e mulheres, por isso não se sabe precisamente quando nasce uma criança. Uma pessoa quando parte continua viva na mente e no coração daqueles que a amam.
A passagem do ano não é o funeral de um ano e o nascimento do outro, é a dança do idoso com a criança. Ele com os passos cansados, mas vividos. Ela ensaiando os passos, mas cheia de energia. Nesse baile, em vez de uma ampulheta se entrega uma rosa branca com folhas bem verdes, branca como a paz, verde como a esperança, sementes semeadas ontem, flores colhidas hoje, anunciando o fruto de amanhã. Ambos embalam uma criança que se chama Jesus.
Nós cristãos temos um conceito de tempo que se chama eternidade: existência absoluta, sem princípio nem fim, pois a nossa história foi assumida por Aquele que é o Ontem e o Hoje, o Princípio e o Fim, o Alfa e o Ômega, o Senhor do Tempo e da Eternidade, Aquele que era, que é, que será.
Na passagem do ano ao Senhor da Eternidade cantamos Te Deum: ‘A Ele o tempo e a eternidade, a glória e o poder pelos séculos sem fim’. Aos irmãos que estamos no tempo, diferente de Vinícius não dizemos: ‘que seja infinito enquanto dure’, mas sim que seja eterno, pois dura para sempre. Dizemos mais do que adeus ano velho ou feliz ano novo. Desejamos simplesmente eternidade feliz, eternamente feliz.”
Depois destas belas palavras, que tal fazermos um ‘Pacto com a Felicidade’? Por exemplo:
De hoje em diante, todos os dias ao acordar direi: ‘Hoje vou ser feliz’. Lembrarei de agradecer ao sol pelo seu calor e luminosidade; sentirei que estou vivendo. Não preciso comprar o canto dos pássaros, nem o murmúrio das ondas do mar. Vou sorrir mais, cultivar mais amizades e neutralizar as inimizades. Não julgarei os atos dos meus semelhantes, mas aprimorar os meus.
Reservarei minutos de silêncio para ter a oportunidade de ouvir. Não vou lamentar nem amargar as injustiças; pensarei no que posso fazer para diminuir seus efeitos. Não vou sofrer por antecipação, prevendo futuros incertos, lembrando de coisas sobre as quais não tenho mais ação. Não pensarei no que não tenho e que gostaria de ter, mas em como posso ser feliz com o que possuo. E o maior bem que possuo é a própria vida!
Vou lembrar-me de ler uma poesia, ouvir uma canção e dedicá-las a alguém, sem esperar nada em troca, apenas pelo prazer de ver uma pessoa sorrir. E quando a noite chegar, olharei para as estrelas, para o luar e agradecerei a Deus… porque eu fui feliz!
Que assim seja para todos em 2013.