A recente participação dos clubes brasileiros na Copa do Mundo de Clubes trouxe à tona um debate acalorado sobre as diferenças entre o futebol praticado no Brasil e o europeu, conforme discutiram o Professor Ronaldo Abranches, Marcílio D. Carvalho e Edson Wander em recente análise. A competição, que marca sua primeira edição histórica, revelou tanto o potencial quanto as limitações dos times brasileiros diante de adversários com maior poderio financeiro e estrutural.
O Flamengo, clube de maior orçamento da América do Sul, enfrentou o Bayern de Munique e, apesar da derrota por 4 a 2, deixou uma imagem positiva. Segundo Marcílio D. Carvalho, o rubro-negro demonstrou um sistema de jogo mais próximo do estilo europeu, com linha alta e pressão, além de contar com uma torcida que encheu o estádio e deu um show, mesmo após o revés. “O Flamengo está evoluindo para se tornar cada vez mais forte, com um projeto de internacionalização que inclui a Flamengo TV e a presença de Zico como embaixador”, destacou Marcílio. No entanto, ele reconhece que a diferença financeira ainda é um obstáculo significativo para competir de igual para igual.
O Professor Ronaldo Abranches, em sua crônica intitulada “A Copa do Mundo de Clubes é uma grande oportunidade para o futebol brasileiro perceber onde estão as diferenças com os europeus”, enfatizou o impacto da globalização no futebol. Ele explica que, na Copa do Mundo de Clubes, os gigantes financeiros europeus reúnem os melhores jogadores do planeta, ampliando o desnível em relação aos clubes brasileiros. “Na seleção, você depende de jogadores do país, mas nos clubes, o poder econômico permite selecionar atletas de qualquer lugar, o que aumenta a diferença”, afirmou. Abranches destacou ainda a importância do vigor físico e da capacidade aeróbica dos jogadores europeus, que combinam força física com habilidade, algo que ainda falta ao futebol brasileiro.
Edson Wander, por sua vez, reforçou o “choque de realidade” enfrentado pelos brasileiros. Ele citou o jogo do Flamengo contra o Bayern, onde erros foram provocados pela intensa pressão do adversário. “O Bayern forçou os erros do Flamengo. Não foi um dia ruim, é a realidade da diferença”, disse. Ele também mencionou a vitória surpreendente do Botafogo sobre o PSG, mas alertou que o resultado não reflete a consistência necessária para competir com os europeus, especialmente após a derrota para o Palmeiras em um “joguinho sem vergonha”.
A discussão também abordou o calendário exaustivo do futebol brasileiro, que sobrecarrega os jogadores com até 70 ou 80 partidas por temporada, contra cerca de 54 na Europa. Para o Professor Ronaldo, a desorganização da CBF e a busca por faturamento agravam o problema, comprometendo o desempenho dos clubes. “Os times brasileiros precisam de dois elencos para rodar jogadores e se preparar melhor”, sugeriu Marcílio, apontando a necessidade de revelar mais talentos na base, já que o poder aquisitivo para contratações é limitado.
Apesar das dificuldades, a participação na Copa do Mundo de Clubes foi vista como um aprendizado valioso. “Se houvesse mais oportunidades de confrontos com europeus, o futebol brasileiro evoluiria muito”, afirmou Abranches. Ele lembrou que, no passado, torneios como o Ramon de Carranza permitiam esses encontros, algo raro hoje devido à falta de datas no calendário. Edson Wander destacou que os clubes brasileiros, mesmo “chamuscados”, superaram expectativas ao avançar na competição, com Flamengo e Botafogo mostrando competitividade em alguns momentos.
O Palmeiras, que venceu o Botafogo por 1 a 0, e o Fluminense, que enfrenta a Internazionale, ainda têm chances de avançar, mas as perspectivas são desafiadoras. “Futebol é imprevisível, mas a Inter é favorita”, ponderou Marcílio. Para os especialistas, a competição evidenciou a necessidade de o Brasil investir em planejamento, treinamento mental e estrutura para reduzir a distância em relação aos europeus.
A Copa do Mundo de Clubes, portanto, não apenas marcou história, mas também serviu como um espelho para o futebol brasileiro. Como resumiu Abranches, “não é complexo de vira-lata, é complexo de realidade”. Com aprendizado e organização, os clubes brasileiros podem sonhar com um futuro mais competitivo no cenário global.