O ano e a década terminam deixando em nossa memória e em nossas vidas acontecimentos incríveis. Fatos que nos afetaram particularmente e outros tantos que, embora só assistíssemos pela internet e televisão, também nos deixaram impressas marcas indeléveis. O mundo mudou. Grande novidade, o mundo sempre muda. A Terra gira, marcando seu tempo, os povos declaram guerras, promovem a paz, derrubam muros e preconceitos, mas constroem outros, às vezes piores. E o universo parece assistir a tudo, num calmo e sábio silêncio que sabe que é assim mesmo.
Para 2011, sempre algumas metas, como não poderia deixar de ser. Mas não aquelas mais frequentemente lembradas como: emagrecer, deixar de fumar, caminhar mais, passar naquele concurso e por aí vai. Não, dessa vez vamos mais na trilha do espírito. Para isso, recorro aos filósofos, escritores, poetas e santos. Não há como errar.
Brigar menos com a gente mesmo, pensar menos no que poderíamos ter feito ou ter sido, aceitar mais. Fernando Pessoa dizia que “pensar é não compreender…” e que “o mundo não se fez para pensarmos nele, mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…” Bárbaro, não é? Sempre haverá coisas que não poderão ser mudadas, pelo menos para o momento, portanto, serenar. A maioria das pessoas vive ansiosa, desconhecendo a sabedoria das plantas e animais que se cumprem sem perguntas. É difícil, mas quem consegue, conhece a felicidade. Cecília Meireles já nos lembrava: “sede assim qualquer coisa serena, isenta, fiel. Não como os demais homens”.
Gosto muito dos conselhos dos santos. Santa Teresinha do Menino Jesus dizia assim: “Bendito silêncio que tanta paz infunde na alma…” As palavras são importantes, é verdade, porém muitas vezes o silêncio diz mais, é mais compassivo. Então, aquelas verdades que sempre julgamos ser nosso dever dizer aos outros, segurar um pouco. Calar mais, ouvir mais. As nossas verdades nunca serão as dos outros. As pessoas podem se esquecer das belas palavras de consolo e incentivo que lhe falamos, mas nunca se esquecem de nossas palavras implacáveis, por mais cuidadosos que sejamos. Costumam levá-las pela vida toda.
Ter sucesso é muito bom e geralmente todos gostam de brilho, porém sempre há um preço que se paga por isso. Santa Teresinha era tão menina e já sabia: “uma só coisa há neste mundo isenta de inveja – é o último lugar – só nele não se encontra vaidade e aflição de espírito…” Digamos que não necessariamente o último lugar. Minha mãe sempre nos lembrava de que não precisávamos ser os primeiros na escola, mas também não os últimos. Quem sabe um lugar assim no meio.
É isso aí. Para começar o ano, um pouco de aceitação, de silêncio e de equilíbrio. Mais uma coisa: perceber mais o próximo. Não é porque as pessoas estão sorrindo que não têm problemas. Ficaríamos estarrecidos se conhecêssemos suas tristezas não reveladas. Por fim, uma imagem para guardar desse ano que acaba: a da pequena cápsula que transportou os mineiros chilenos da caverna para o mundo. Recebeu o nome de Fênix, aludindo à lendária ave que ao atear-se fogo para renascer das cinzas, preserva a esperança no mundo, esperança que nunca deverá morrer.