Olho para os rostos. Não as conheço, a não ser por uma delas que é mulher de um primo meu, uma garota adorável. Entretanto, as outras têm feições que não me são estranhas, digamos que são coisas da genética, algo que denuncia sua ascendência, traços atávicos, jeitos, olhares, enfim, coisas que fariam minha mãe dizer: “parece gente dos Lopes, ou, lembra os Abreu, ou ainda, tem qualquer coisa dos Souza”. Não as conheço, de fato, mas aí é que está o encanto, o supor, o inventar, o imaginar. Para mim, já são personagens que já fazem parte de minhas histórias. Foram colegas de escola, mais do que isso, tornaram-se amigas, fizeram planos para o futuro, trocaram confidências, compartilharam segredos, lágrimas. Tinham códigos que só elas compreenderiam, quase uma linguagem própria, ininteligível para os estranhos, objeto de estudo que faria os linguistas delirarem em suas teses.
Foi um encontro, um aniversário, ou uma festa, um encontro de amigas, isso. Mas o motivo não importa, tanto faz. A foto captada num momento passado torna-se presente para sempre, aquela alegria devidamente registrada para a posteridade. Imagino que suas filhas ou suas netas um dia olharão para a foto e dirão encantadas: olha, que lindas! Assim como eu hoje olho as fotos antigas e, de olhos fechados, retomo a cena, tal qual num set de filmagem. Foi assim que chamei de “Vida” uma foto de primos e irmãos de minha mãe. Dois rapazes ajoelhados e três em pé exibem sorrisos radiantes. Comentando com meu tio já velhinho há muitos anos, ele me disse: “éramos pobres, sem um tostão no bolso, trabalhávamos na canjiqueira, mas éramos jovens, bonitos e felizes”. Nunca me esqueci.
As meninas da foto já voltaram para suas vidas, para seu dia a dia, para seu trabalho, para seus filhos. Os momentos difíceis vêm e vão como sempre têm vindo para todos nesta vida incerta, caótica e maravilhosa. Nada garante que os sorrisos perdurem, não, ninguém garante nada nesta vida, a não ser neste exato momento em que eu própria sorrio enquanto escrevo e observo a vida pulsando nesses rostos bonitos e semblantes felizes. Mas para os momentos difíceis não faltarão abraços apertados, mãos entrelaçadas e a ternura, a bendita ternura, sem a qual não posso viver.
Parabéns meninas! Parabéns pela foto! Parabéns pelos sorrisos que me encantaram! Vocês me emocionaram!