A cada pecado grave cometido, nos distanciamos mais do nosso Criador e, se não fosse a grande misericórdia que Ele tem por nós, tudo estaria perdido. Tudo significa tudo mesmo! Por mais que ‘aproveitássemos’ a vida de pecados, sem a graça Divina seríamos condenados ao fogo eterno; porém, a qualquer momento podemos retomar o caminho do Céu se nos arrependermos das ofensas a Deus e prometermos não mais pecar. A bondade do Senhor é infinita e imediatamente nos receberia de braços abertos porque Ele é rico em misericórdia.
Somente quem já fez alguma grande experiência com Nosso Senhor compreende perfeitamente isso. Seu amor é o dom maior que vem do alto, brota em nossos corações e se manifesta em gestos concretos de fraternidade ao próximo. Por exemplo, quem ama perdoa e é perdoado, trilha bons caminhos com Jesus à frente e deixa o pecado para trás. Mas, é possível não mais pecar? Para responder isto, é preciso primeiro entender o que é pecado.
O pecado se apresenta no mundo como oposição aos valores do Reino de Deus e só traz desgraça ao homem. Não é apenas uma atitude inconsequente, mas, principalmente, um ato de desamor àquilo que recebemos de mais sagrado: a vida. Ao fazermos opção pelo pecado, passamos a alimentar o egoísmo, o poder, o dinheiro, o prazer, ou seja, o ter toma o lugar do ser.
Ao pecar contra os Mandamentos, o indivíduo diz não a Deus, diz não ao irmão que sofre, nega a graça e prejudica a si mesmo, renunciando um projeto de vida em Cristo. Rompendo a comunhão com tudo o que é sagrado, passa a viver isolado e sem objetivos espirituais.
Tanto é pecado fazer coisa errada como omitir-se em fazer o bem, desde que se tenha pleno conhecimento da ação ou da omissão. E o pior: a cada pecado cometido, muito mais do que os prejuízos pessoais, há sérias repercussões comunitárias, sociais e estruturais: ruptura da unidade, violência, injustiça etc. É muita ingratidão ao amor de Deus continuar perseverando no pecado, mas, como eu já disse, a qualquer momento é tempo de conversão.
E havendo conversão sincera, de coração, as atitudes mudam completamente. O Reino passa a contar com mais uma pessoa que valoriza os sacramentos, que persevera na oração, que confia na Virgem Maria e caminha com a Igreja. Na luta por um sistema mais justo, o agente comprometido honra sua missão de discípulo-missionário de Cristo.
Na liberdade que Deus nos dá, é muito melhor identificar e fugir dos obstáculos que impedem nossa salvação do que correr sozinho atrás do prejuízo. Fortalecidos pelo Espírito Santo, teremos mais coragem de enfrentar as tentações para continuar em sintonia com a graça.
Conheço a história de um pregador que pegou um copo d’água em uma das mãos e o segurou acima da cabeça. Então perguntou:
– Quanto acham que pesa este copo?
Entre as pessoas que ouviam a mensagem, uns disseram pesar 100, outros falaram 150 ou 200 gramas. Sorrindo, o pregador respondeu:
– Para mim, o peso depende do tempo que vou ficar segurando o copo. Quanto maior o período que o sustento, mais difícil será mantê-lo no alto. Chegará o momento que eu só conseguirei segurá-lo se jogar um pouco d’água fora. Assim também acontece com o pecado: se não confessarmos e aliviarmos periodicamente da carga que carregamos, não conseguiremos caminhar a passos largos para o Céu.
Viver não é questão de quantidade, mas de qualidade. De nada adianta ficar dezenas de anos na Terra sem amor nas atitudes do dia-a-dia. A rotina sem uma boa dose de espiritualidade cristã é muito triste! Rezando a partir da Bíblia, passamos a saber o que o Senhor quer de nós e, assim, podemos corresponder mais à Sua vontade. Quem tenta negociar graças segundo as conveniências pessoais a cada momento, normalmente se decepciona e culpa alguém. Só enxerga a si e despreza o bem comum. É justo usar e abusar de Deus sem louvá-lo e glorificá-lo?
No Evangelho de São Lucas, leia o capítulo 7, versículos de 36 a 50: A Pecadora Perdoada. É um dos mais bonitos trechos da Bíblia.
Concluindo, temos a liberdade de opção até para errar, mas podemos contar com a bondade do Pai que sempre perdoa. “Ele amou e se entregou por mim” (Gal 2,20), por isso, a minha resposta deve ser amor-doação – fixar-me mais na caridade gratuita do que no pecado. E lembre-se: pecar não é somente praticar o mal, mas, principalmente, o bem que se deixa de fazer. Entre pecar e amar, cada um decide o caminho a seguir e assume as consequências.