Nosso ídolo também é mortal. Ele e cada um de nós, por sinal.
Em algum momento da caminhada os pés tropeçam e vamos ao chão. Alguns de nós partem rapidamente, quase sem dar tempo de despedidas. Outros demoram a viajar, e isso nem sempre é bom.
Pelé está há alguns dias internado num hospital de grife em São Paulo.
Que bom!
Talvez ele tenha sido prudente em multiplicar o que ganhou honrosamente durante toda a vida, com a sua arte.
Por isso, quando foi necessário, teve acesso ao que há de melhor no combate ao câncer.
Mais ainda: como está em um hospital à frente do seu tempo no Brasil, recebeu desde o início do tratamento, o apoio dos Cuidados Paliativos (CP). Estes mesmos que vêm sendo cada vez mais conhecidos e falados hoje em dia.
E agora, o hospital divulga que a quimioterapia (e os demais tratamentos voltados à redução da velocidade da doença) não mais cumprem o objetivo. Nesse momento, então, os CP tornam-se exclusivos.
O que quer dizer que todos os esforços da equipe se destinam agora com exclusividade ao controle das dores e dos demais sintomas provocados pelo câncer, de forma a que a morte, quando acontecer, possa ser suave e digna.
Que sonho!
Maravilhoso que possamos retribuir ao nosso ídolo, ao homem que elevou a auto-estima do Brasil por tanto tempo, com suavidade e carinho em um momento de dor.
Mas podermos oferecer CP ao Pelé levanta também uma grande polêmica: por que ainda apenas a ele e a muito poucos (a maioria de privilegiados econômica e socialmente)?
Por que ainda não podemos, no SUS e para todos os cidadãos brasileiros, oferecer apoio integral à doença e morte digna quando chega a hora?
Claro: país imenso, baixa renda para a saúde, poucos profissionais formados, claro!
Mas quando?
Graça Mota Figueiredo