O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a seguinte notícia que foi veiculada pela imprensa: PIB cresce 7,7% no 3º trimestre de 2020. De modo geral, essa é uma notícia que realmente merece destaque. Entretanto, nem tudo são flores. Em toda rosa, linda e perfumada, também encontramos alguns espinhos. Então vamos a eles.
O anúncio feito pelo IBGE, refere-se a uma comparação em relação ao 2º trimestre de 2020, ou seja, o trimestre imediatamente anterior. Esse resultado apresentou a recuperação da indústria (crescimento de 14,8%) e dos serviços (alta de 6,3%). Na contramão desses setores e de resultados dos trimestres anteriores, o setor agropecuário recuou 0,5%. A boa notícia é que todos os setores serviços cresceram, com destaque para os setores de comércio (15,9%) e transporte (12,5%), que amargaram os piores resultados no segundo trimestre de 2020, com redução de 13% e 19,3% respectivamente.
Se comparado com o mesmo período de 2019, o PIB do 3º trimestre de 2020 caiu 3,9%, amargando a terceira queda consecutiva na comparação com 2019. Entre as atividades produtivas, a indústria acumulou queda de 0,9%, puxada principalmente pela construção civil (-7,9%). Os serviços também acumulam uma retração de 4,8%, com destaque negativo para o setor de transporte (-14,4%). Por outro lado, a agropecuária manteve o seu bom resultado, com crescimento de 0,4% em relação ao mesmo período de 2019. Esse resultado pode ser explicado principalmente pelo crescimento da produção e ganho de produtividade da atividade, com destaque para o café, cana de açúcar, algodão e milho.
Outro ponto com destaque negativo foi a despesa de consumo das famílias brasileiras. Esse indicador acumulou queda de 6,0% em função principalmente da COVID-19. Como resultado, esse indicador afetou negativamente o mercado de trabalho, provocando queda na oferta e demanda de serviços relevantes no consumo das famílias.
Já em relação ao acumulado até o terceiro trimestre de 2020, o resultado do PIB, apesar de negativo, é melhor do que o cenário construídos por alguns especialistas. A redução de 5% em relação a 2019 só não é pior porque a agropecuária literalmente salvou a lavoura, com crescimento de 2,4%. Ao passo que a indústria e os serviços acumularam quedas de 5,1% e 5,3%, respectivamente.
Apesar do momentâneo alívio no PIB, o governo ainda precisa se preocupar com diversos fundamentos econômicos. A inflação oficial divulgada pelo IBGE, o IPCA, já acumula alta de 3,92% nos últimos 12 meses, como previsão de chegar a 4% no ano de 2020. Se considerado outros indicadores de inflação, como por exemplo o IGP-M, calculado pela Fundação Getúlio Vargas, nos últimos 12 meses esse indicador acumula alta de 24,52%. Vale lembrar que o IGP-M é o índice de inflação usado principalmente no cálculo de reajuste dos aluguéis.
O desemprego também outro ponto que deve ser destacado. De acordo com o IBGE, até o final do mês de outubro havia um contingente de 13,8 milhões de desempregados no Brasil, registrando, portanto, uma taxa de desemprego de 14,1%. A maior taxa registrada na série. De acordo com o IBGE, o problema é mais grave entre mulheres, negros e jovens, que apresentam taxas de desocupação de 17,1%, 16,2% e 23,7%, respectivamente.
Por último, vale destacar a situação fiscal do país. A explosão da dívida pública, que em setembro de 2020 atingiu o patamar de 90,6% do PIB e o risco de um descontrole fiscal é apontado como um dos principais fatores de incerteza doméstica. Como já adiantado em matérias anteriores, os gastos para combater os efeitos da pandemia foi mais um dos vários fatores que contribuíram para essa situação. De acordo com projeções do Ministério da Economia, o rombo nas contas do setor público consolidado em 2020 pode passar de R$ 900 bilhões. Desse total, o governo federal deverá responder sozinho por um déficit primário de mais de R$ 880 bilhões. Valor maior do que a economia com a reforma da previdência e 7 vezes a meta de rombo estipulada para o orçamento de 2020.
Como visto, a recuperação do PIB em relação ao 2º trimestre de 2020 foi apenas um raio de sol no meio de uma terrível tempestade econômica. A incerteza ainda é muito grande. Por isso, vamos aguardar os próximos capítulos.
Até o nosso próximo encontro!
Prof. Dr. André Luiz Medeiros
Prof. Dr. Moisés Diniz Vassallo
Prof. Dr. Victor de Mello Valério
DENARIUS – Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira
Instituto de Engenharia de Produção e Gestão (IEPG)
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI).
O painel de educação financeira é uma parceria do programa Conexão Itajubá com o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira (DENARIUS UNIFEI).
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