E fico me perguntando por que esses políticos querem tanto dinheiro. O que já recebem pelos nobres serviços é tanto, mas tanto, sem incluir as vantagens com moradia, passagens, gasolina, assessores, assessores de assessores, empregados e sabe-se lá mais o que. O que me espanta é a ganância. Esfolaram o gigante sem dó nem piedade. Todas as vezes que penso na política, vem o Brasil a minha mente como a imagem de um elefante com bandos de facínoras que lhe arrancam as presas de marfim enquanto o animal, ainda vivo, urra de dor. Depois sobem em cima de seu corpo e erguem com orgulho a bandeira da perversidade, sem nenhum pejo. É assim que vejo os políticos de meu país. Depois de vender o produto de seu crime, vão guardar o dinheiro lá nos paraísos fiscais e fazem tantas falcatruas, tanto e tanto que acabam por acreditar que isto é normal. Não é assim mesmo que funciona? Uma mentira repetida muitas vezes não se torna verdade para quem mente? E babas e babas de dinheiro. E não há o que chegue.
Bem, pergunto de novo: por que um país feito de políticos corretos e honestos soa tão irreal, tão distante como um sonho impossível? Porque a política, tal qual o futebol é uma arte, e arte é beleza, mas transformaram essas belas artes em comércio. Bismarck dizia que “a política não é uma ciência exata como imaginam muitos dos senhores professores, mas uma arte”. Há muito que nos faltam líderes, quero dizer, líderes de verdade, não estes políticos que aí estão. Por que não os encontramos mais? Porque um líder é agraciado com o dom de ser líder, ele nasce líder, afinal todos nós nascemos com dons. E líderes políticos em nosso país são uma raça em extinção. O verdadeiro estadista no passado descobria que era um líder porque aprendeu a cultivar um sonho e um ideal. Se hoje nos faltam líderes, de fato, é porque matamos os sonhos e os ideais, coisas que são muito mais, infinitamente mais valiosas do que as malas de dinheiro e contas nos paraísos fiscais. O último líder nato que um dia trouxe em seu peito sonhos e ideais parece também ter sido seduzido e corrompido. Diz a Bíblia que se não multiplicarmos os dons que de graça recebemos, eles nos serão tirados. Também é costume dizer que todos têm o seu preço, e em nosso país, o preço é alto.
Bem, comparam a paixão do povo pelo futebol com a paixão pelos partidos políticos. É. Paixão é paixão. E paixão é perigosa porque cega as pessoas, destrói tudo, destrói as relações de amizade, de família, faz as pessoas alimentarem os demônios que trazem dentro de si e as tornam capazes de tudo, até matar e morrer. Mas quero voltar aos líderes, e também quero falar dos craques de futebol que também já não são os mesmos. Ainda temos alguns poucos que ainda são capazes de mostrar a arte do jogo como algo belo. Como não chamar de arte a dança fascinante dos dribles de jogadores como Garrincha de pernas tortas? E veja que os jogadores daquela época iam com a roupa do corpo para os outros países, modo de dizer. Iam de cara lavada, sem tintura e penteado no cabelo, sem brincos e sem modas. Levavam apenas seu dom de jogar, sua arte e seu sonho de vencer, e venciam e venceram.
Tivemos políticos assim também. Alguns já eram ricos, outros pobres, mas o sonho e o ideal de bem governar já traziam desde crianças. Na juventude, o sonho amadurecia e explodia dentro do peito e nada os segurava. E quando tornavam-se políticos atuantes, demonstravam incrível habilidade de articulação, de discurso, de ações honestas. O coração ardia de emoção e amor pelo país. Como não chamar de arte a habilidade de articulação dos antigos políticos? Como não chamar de arte o sonho de elevar seu país, expurgando a miséria? Evidentemente que uma corrupção aqui e ali sempre existiu em todos os lugares, mas vamos e venhamos, fazer da corrupção uma prática normal e corriqueira, saquear as empresas do próprio país como hordas de bárbaros em terras estrangeiras, sem deixar um vintém?Arquitetar planos de corrupção com tamanha frieza? Uma empreitada corrupta generalizada em que não escapa um político sequer que seja honrado? Assassinaram a beleza da arte na política.
O mundo mudou, o país mudou, os valores mudaram. O mercantilismo infiltrou-se de tal forma nas instituições que foi corroendo tudo. Sabemos que não se faz campanha política sem muito dinheiro. Sempre o dinheiro, dinheiro e dinheiro. E aí a derrocada moral tem início. Faz-se de tudo, a princípio para comprar o ingresso na vida política, depois para viver nababescamente no luxo e no prazer, dar festas que fariam Nabucodonosor corar de vergonha nos jardins suspensos da Babilônia. A grande maioria não tem o dom da arte política, não nasceu para isso e os poucos que têm perderam este dom, corrompidos pelo dinheiro, pelo poder, pela grandeza e honrarias. A derrocada moral e mudança de valores também estão presentes no povo que está nas ruas gritando obscenidades rimadas para orquestrar uma torcida tresloucada. Por que não se ater a palavras de ordem? Por que baixar o nível?
Se eu tivesse hoje o poder para mudar a educação do país, eu incluiria uma nova disciplina: “sonhos e ideais”. Isso porque as crianças e jovens já não sabem o que seja perseguir um sonho, cultivar um ideal e ainda apreciar a beleza. Sim, eu incluiria a “Beleza da Arte”. Quem sabe um dia poderemos voltar a ter fé na humanidade, e ver surgirem verdadeiros líderes políticos honestos com o peito inflamado de amor pelo seu país.
Tudo isso faz-me lembrar de Santa Catarina de Sena que dizia mais ou menos assim: “Os homens são capazes de enfrentar as mais terríveis adversidades, atravessar mares, desbravar florestas e enfrentar enormes perigos para conquistar riquezas, honra e fama. Mas não são capazes de lutar para conquistar uma única virtude que seja”. E pensar que virtudes são a riqueza maior…