Por que Deus, Criador de todo o universo, estrelas, constelações, galáxias, fenômenos formidáveis em perfeição e magnitude, que criou nosso planeta com uma exuberância de vida e intermináveis processos, haveria ainda de criar uma vida como a humana? Qual necessidade ainda restaria ao Criador de conceber a nossa espécie?
Qual é a minha origem, quem sou, por que surgi neste país, nesta época, nesta família? Onde estarei no futuro quando cessar minha vida física? Por cima dessas interrogações profundas e tão naturais está o maior enigma: Quem é o meu Criador e o de tudo o mais no universo?
Qual finalidade, portanto, cumpre o existir da espécie humana, a única dotada de consciência?
Percebo que, não estando sob a influência de pensamentos que rejeitam todo o nobre valor de poder pensar com liberdade, sem preconceitos, crenças ou temores, é a capacidade de refletir, pensar, imaginar, criar, antever, predizer ou intuir, entre tantas, que nos permite avançar na jornada de nossa vida.
Contudo, sei que, diante de tão extraordinária interrogação — por que Deus criou o ser humano? —, minha real expectativa não pode ser maior do que a de apenas conseguir encaixar uma pequena peça a mais nesse enigmático quebra-cabeça da vida e da existência. E tento, com o auxílio de outras tantas peças que me deram alguma referência até aqui, procurar estar cada vez mais próximo do do real motivo de existir.
PRIMEIRA PARTE – A singularidade da espécie humana; o divino em uma partícula.
Por um instante passo em vista, na progressão do tempo, o que ocorreu em tudo aquilo classificado como reino mineral. Processos contínuos fazendo surgir compostos, estruturas e relevos que, com perfeição, parecem mostrar vida nessa transformação ― mas tudo isso acontecendo numa escala que se conta de muitos milênios a dezenas e centenas de milhões de anos. No reino vegetal, ainda que essa escala de tempo seja menor, longo também é o tempo que se necessita para que suas transformações fundamentais ocorram. Também assim é o que se passa com os integrantes do reino seguinte. No entanto, mesmo um animal longevo não mostrará em seu período de vida qualquer novidade que o distinga de seus ascendentes, seus procriadores. Seu comportamento, suas habilidades ou sua capacidade seguirão sendo as mesmas dos seus pares, do nascimento à morte. Qualquer adaptação que surgir precisará de um tempo muito além do tempo de duração de sua vida.
Em nenhuma outra espécie, exceto na humana, há uma consciência. Graças a qual, ela sabe o que faz e porque o faz; sabe que existe, ainda que possa não saber para quê. Possui uma mente que pensa, cria, raciocina e reflete. Essas e outras condições de sua inteligência lhe permitem questionar o que não compreende. Age assim continuamente, até alcançar o conhecimento que a satisfaça.
Cada vez que faço uma descoberta, que crio, que consigo dar vida ao que minha mente elaborou, experimento uma felicidade incomparável, e intuitivamente me sinto muito maior do que antes; sinto que, agora sim, estou na trilha para encontrar algumas respostas.
SEGUNDA PARTE – Tudo deve caminhar para a evolução
Se não houvesse o tempo nada haveria na Criação, a menos que Deus tudo houvesse criado instantaneamente. E, ainda assim, sem o tempo, tudo se manteria imutável. O tempo – ou a sucessão dele – é o gargalo por onde passam todos os acontecimentos. E nessa passagem estão as transformações.
Tudo segue e deve seguir um processo, e o decorrer do tempo é o acontecimento mestre que permite que se atualize a realidade. Há processos tortuosos, que, de maneira surpreendente, alcançam um estado melhor do que o esperado. E há também os promissores, que se perdem em suas falhas e não terminam bem. Mas, como que sob alguma batuta universal regendo todos os acontecimentos do universo, sua somatória deve concluir para um aperfeiçoamento constante, rejeitando ou devolvendo àqueles malsucedidos para uma nova tentativa, e promovendo os bem-sucedidos para a etapa seguinte. Nessa evolução como entidade universal, cuja autoridade age sobre todos os processos, do micro ao macro, e por todo o universo, está, naturalmente, o ser humano.
3ª PARTE – Deus também evolui?
Um pai, em seu incomensurável amor, ao criar um filho, quer vê-lo superar o que em seu tempo ele próprio foi e teve em benefício, conforto, conhecimento, felicidade. Seu filho é uma parte de si. Uma parte do tempo em que o pai viveu já não existe mais, ficou no passado. Mas agora, recolhendo os frutos de seu amor e dedicação, tem sua vida ampliada na figura do filho, nas conquistas e realizações que este é capaz de alcançar. Ele é agora o ser de antes, acrescido de alegrias e felicidade em correspondência ao que ofereceu em amor, dedicação, tempo e energia ao outro ser. Tornou-se maior do que era antes. Da mesma forma, não tornará sua vida ainda maior ao poder colaborar e compartilhar as alegrias e vivências com os netos, e assim por diante? E o mesmo não ocorrerá com qualquer outra pessoa a quem permita viver um pouco de sua vida, ao compartilhar momentos com aqueles cujas mentes e corações estão vinculados ao seu?
Se pensarmos que tudo na Criação é parte de Deus, pois tudo se originou de Sua concepção, podemos perceber que há algo além nisso: uma essência que é parte de Deus, mas também é divina, por possuir em seu potencial capacidades divinas, como a consciência e a capacidade de criar.
Sendo nós seres com apenas algumas centenas de milênios de existência, como fomos capazes, em tão breve história neste planeta, de avançar e conquistar tudo o que já alcançamos em descobertas e invenções?
Em uma evolução gradual e cada vez mais acelerada, o inimaginável tem tornado-se realidade. Parece cada vez mais impensável projetar para as próximas décadas e séculos o que poderemos realizar em conjunto no futuro, superando o estado atual. Quem ousaria projetar nossa existência a várias dezenas de milênios à frente?
Deus, criando suas Leis Universais, e fragmentando-se no universo em uma espécie como a humana, não teria Ele mesmo Se colocado no próprio jogo da evolução? E assim, Sua parte da Criação com capacidades divinas, na figura de todos da espécie humana com sua consciência e capacidade criadora, não tenderá a ser cada vez mais divina, aproximando-se em conjunto, no somatório de todas as consciências, cada vez mais ao próprio Criador? Enquanto o próprio Criador amplia-se, pois ao recolher Sua parte fragmentada, Ele recolhe-a ampliada, não mais como a parte divina em potencial, mas como realidade. Para então novamente a fragmentar, seguindo jornadas crescentes de evolução.
Mas essa evolução de velocidade extraordinária para tudo o que usufruímos no dia a dia não foi acompanhada de igual melhoria no campo das relações humanas. A evolução coletiva será efetiva quando também ocorrer no campo individual.
As inovações técnicas só surgiram em volume cada vez maiores quando a escuridão que impedia o acesso ao conhecimento dissipou-se. Pela finalidade natural do ser humano em sua busca incansável pelo conhecimento ― certamente causada por aquele mesmo gene divino ―, este rejeitará tudo o que se contrapuser a essa missão, ao mesmo tempo em que seguirá na procura do conhecimento cada vez mais amplo, incluindo sobre sua própria psicologia, sua realidade interna, e, por fim, da finalidade de sua existência, da existência de toda a humanidade, do universo e de Deus.
Tendo em conta que cada um de nós é um desses fragmentos do Criador, em sua parte divina em potencial, estudar esse eu, ainda quase totalmente desconhecido, pode ser a maior jornada de descobrimento já realizada pelo ser humano, pois significa adentrar no caminho que leva a conhecer o próprio pensamento de Deus ao constituir a nossa espécie.
Um pensamento de Marco Lucio Rosa Batista