A nossa geração vive um paradoxo, pois apesar de sermos a geração mais conectada somos também a mais isolada.
Estamos totalmentevoltados para si mesmo, a este ponto acreditamos mais do que nunca que a solução de todos os nossos problemas pode ser resolvida a partir do famosoconhece te a ti mesmo, que hoje se transformou mais numcultue se a si mesmo.
Consequência direta dos nefastos ensinamentos dos gurus do desempenho e da meritocracia.
Sócrates quando nos apresentou a ontologia não poderia imaginar o que faríamos com ela, afinal oSeragora fantasiado deIndividuopassou a acreditar que oOutronada mais é do que mero espelho.
Mas se o Outro não passa de um espelho a refletir minhas qualidades e defeitos, onde está o Outro, onde está o Diverso?
Eu espero que tenhamos a coragem de assumir que não conhecemos o Outro, não temos a mínima noção do que significa Diversidade.
É que o homem moderno se transformou numa máquina de cumprir metas. Perguntem nas ruas quais são as cinco principais preocupações ou planos de uma pessoa e aguarde a resposta, minha casa, minha viagem, meu MBA, minha empresa, minha carreira, minha morte. Dificilmente haverá uma resposta que demonstre alguma preocupação com o diverso.
Uma sociedade adoecida, cujo dialogo praticamente não existe. Até mesmo nas reuniões familiares é possível constatar o quanto cada um está preocupado com seu próprio celular, ou em apresentar seu mais novo sucesso, os encontros se tornaram tão apavorantes que ninguém mais é capaz de falar dos seus fracassos.
O mundo de hoje é para os vencedores, e vencedores conquistam o Outro, o totalizam, o englobam. Vencedores não dão espaço para que o Outro exista, para que o diverso apareça com todo o seu esplendor.
A crise da diversidade não é uma questão de raça, gênero, classe social, ela é muito mais do que isto, ela é consequência de um estilo de vida que estimula o egoísmo, que estimula a competição, que mantém o homem fechado, atomizado, cujas crises de ódio geram toda espécie de violência contra o Outro, e estejam certos que todos nós somos vitimas desta violência.
Chegamos a um ponto onde o Outro nos assusta, o Outro nos incomoda, justamente pelo fato de que sua diferença é capaz de “abalar” meus planos, sim os meus planinhos, montados com tanto custo e que agora podem ser modificados pela mera existência do diverso em minha vida.
Medo do Outro, medo do contato, medo daquilo que me escapa, medo do descontrole que o Outro é capaz de me proporcionar, mas também medo do novo, de um novo caminho, de uma mudança de consciência, medo, sobretudo, de viver.
Mais cedo ou mais tarde eu espero que possamos resgatar a verdadeira consciência da diversidade, especialmente quando reconhecermos que somente o Outro é capaz de nos livrar da prisão do individualismo desenfreado que nos metemos.
Nesse sentido, Clarice Lispector anteviu: “Mas sei de uma coisa: meu caminho não sou eu, é o outro, é os outros. Quando eu puder sentir plenamente o outro então estarei salva e pensarei: eis o meu porto de chegada.”
Espero que fique claro, que estou falando do Outro, do absolutamente Outro e não do mesmo, daquele que concorda com tudo aquilo que falamos, pois este sim, não passa de um espelho.
É curioso ver como os momentos mais maravilhosos de uma vida aparecem justamente quando estamos abertos, talvez seja por isso, que os poetas nos ensinam que o amor é uma espécie de arrebatamento, que é algo que nos pega quando estamos desprevenidos, com a guarda baixa, sem nossas planilhas, planos e títulos.
Que possamos reconhecer que o amor é – antes de tudo – a própria diversidade…
Um abraço a todos!