Já li vários textos sobre o que motiva uma pessoa a escrever. Clarice Lispector dizia que escrevia por um puro prazer que ela afirmava não conseguir traduzir. Dizia ela: “escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando.”
Seja lá como for, sinceramente, eu nem sei por que escrevo. Talvez porque meu pai escreveu um livro de memórias, também dois tios e um primo escreveram livros de poemas. Eu escrevi tarde, nunca me lembro de ter escrito algo na adolescência ou juventude. Mas a veia de meus caros aflorou um dia em mim. Comecei escrevendo pequenos contos, depois percebi que escrever crônicas era uma delícia e depois vieram os poemas, esses bem mais tarde, meus filhos prediletos.
Escrever é trabalho que dá prazer, é um quebra-cabeças que consigo montar até o final, sempre encaixando uma peça em outra. É o bordado delicado com as letras e palavras que nunca aprendi com as rendas e linhas. Às vezes escrever é mais fácil quando, por exemplo, recebo a visita inesperada da bendita inspiração que, generosa, chega carregada de malas abarrotadas de ideias geniais. Mas na maioria das vezes tenho mesmo que acordar as palavras preguiçosas que insistem em dormir me deixando sozinha no meio de espaços vazios e pontos de interrogação. Aí leio, vou às fontes, mas o texto só nasce depois que digito a primeira palavra. Aí vem outra palavra invejosa, mais outra, até que muitas me imploram de joelhos para participar do texto. É uma ideia que traz mais duas e o artigo sai. É trabalho sim, porém quando acabo, ah é gostoso, fico só arrumando aqui e ali, procurando a palavra mais adequada ou mais sonora, enfim a que se ajusta mais com este ou aquele assunto.
Dizem que a gente não é escritor, a gente se torna escritor, à medida que o escrito toma asas e já vive por conta própria, algo como o filho que cresce e se torna independente. Um livro pronto é até comparado com o parto, só que nem bem nascido, o filho deixa de ser nosso, já não nos pertence.
Bem, escrevo porque adoro contar histórias, escrevo por uma necessidade imperiosa de registrar fatos e acontecimentos que sinto que não podem se perder com o tempo. Escrevo para dividir com os outros minha própria história que se revela direta ou indiretamente através de meus escritos reais e fictícios. Escrevo para ter prazer. Escrevo porque sou vaidosa e narcisista, mas me perdoo com o pretenso e ilusório consolo de que quase todo autor também é.
O que mais? Escrevo porque o mundo me encanta, a morte me amedronta e a vida me espanta.
Misa Ferreira é autora dos livros: Demência: o resgate da ternura, Santas Mentiras, Dois anjos e uma menina, Estranho espelho e outros contos, Asas por um dia, Na casa de minha avó e Ópera da Galinhinha: Mariquinha quer cantar. Graduada em Letras e pós graduada em Literatura. Premiada várias vezes em seus contos e crônicas. Embaixadora da Esperança (Ambassadors of Hope) com sede em Calcutá na India. A única escritora/embaixadora do Brasil a integrar o Projeto Wallowbooks. Desde 2009 Misa é articulista do Conexão Itajubá, enviando crônicas e poemas. Também contribui para o jornal “O Centenário” de Pedralva.