Estou na sala e o meu olhar se perde no verde da mata ao meu redor; sou “incomodada” às vezes nos meus pensamentos por um mugido distante ou por um pipilar frenético dos passarinhos disputando a quirera dos comedores.
Ou pela minha cachorrinha Olívia, moradora da cidade, que vem me perguntar às vezes que bicho esquisito é aquele que a assustou nas suas andanças nervosas pelo meio do mato.
No início, quando cheguei a Itajubá, era um tanto estranho ouvir chamar um sítio, uma chácara ou uma fazenda (tanto fazia o tamanho) de roça. Lembro-me de uma paciente no consultório, que eu sabia ser grande proprietária de terras, me dizer que estaria “na roça” no fim de semana…
Hoje eu adoro este despojamento!
Qualquer tamanho de terra por aqui é apenas uma roça, sem nenhum sinal externo de ostentação.
Uma roça é muito mais simples e acolhedora do que uma fazenda, onde talvez se tenha que ser convidado para aparecer; numa roça se chega prá um cafezinho, sem medo de incomodar…
Da chaminé da casa de roça sempre sai uma fumacinha preguiçosa, como um sinal de amizade e um convite à mesa sempre posta para o almoço ou o jantar bem mais cedo que na cidade, entremeados do dia inteiro de biscoitos ou bolos fresquinhos, que pecado prá mineiro é deixar sair alguém com fome de uma visita sem anúncio…
Eu sei…
Eu me lembro da infância: a casa dos meus avós na cidadezinha pequena daqui de perto, onde a enorme sala de jantar, sempre cheirosa e cheia de gente se sentando e se levantando prá sentar de novo logo depois com outros visitantes, parecia ser o lugar de honra do enorme casarão…
Onde eu aprendi que a diferença entre as pessoas não se vê na roupa nem na grossura das palmas das mãos, mas apenas no caráter…
Onde sempre havia lugar à mesa pro velhinho que rachava lenha prá semana, prá lavadeira que entregava a roupa numa trouxa encarapitada na cabeça, pro empregado da fazenda que trazia a mulher no médico…
Era tão fácil! A criançada se espremia um pouquinho só, e ia cabendo quem chegasse.
Pôxa, acho que quase me perdi no devaneio…
Quase me esqueço de que, quando escrevi o título da coluna de hoje, eu queria dizer que antes, durante e depois do Carnaval, bom mesmo é o silêncio da Natureza!
E na roça, onde ele parece muito mais amigo do que numa chácara, num sítio ou numa fazenda!