O zika é um dos vírus transmitidos por meio da picada do mosquito Aedes aegypti e ganhou destaque por conta dos recentes casos de microcefalia em recém-nascidos no Brasil. O grande número de casos pode estar relacionado à infecção de gestantes por zika e diante disso, após reunião em Genebra, o avanço da microcefalia ligada ao zika vírus nas Américas foi considerado uma emergência internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para falar sobre o vírus o Conexão Itajubá conversou nesta terça-feira (23) com o coordenador do curso de Infectologia e Genética da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, professor Gustavo Thomazine.
Ele explica que o zika é um vírus conhecido há muito tempo e foi isolado pela primeira vez na floresta de Zika, na República de Uganda, em 20 de abril de 1947. O vírus atacava macacos rhesus e foi descoberto por um grupo de pesquisadores da OMS que foi estudar a febre amarela.
Apenar de ser o berço do vírus, em Uganda foram registrados apenas dois casos de pessoas que foram infectadas por zika. Naquele país o Aedes aegypti é uma variedade de mosquito que ataca primatas não humanos e por isso são raros os casos pessoas contaminadas. Foi o desmatamento das florestas e consequente aproximação dos macacos das áreas urbanas que trouxe a doença até o ser humano. Posteriormente, com a globalização, essas pessoas viajaram e o vírus se espalhou pelo mundo.
Na América do Sul as primeiras amostragens começaram na ilha de Páscoa, no Chile, e depois vieram para a Colômbia, Bolívia e então Brasil. Thomazine explica que o zika tem o agravante de não apresentar sintomas ou apresentar sintomas muito fracos na maioria dos casos. Segundo a OMS apenas 18% das pessoas infectadas apresentam os sintomas da doença, o que contribui para que ela se alastre com facilidade.
Além da zika, o Aedes aegypti também transmite a dengue, febre chikungunya, febre amarela e várias outras. Basicamente a manifestação do zika é como uma dengue mais fraca, com um diferencial de que pessoas que contraem zika desenvolvem uma espécie de conjuntivite, caracterizada por vermelhidão e ardência nos olhos.
A informação referente à relação entre microcefalia e zika é vista com certa prudência. A própria OMS afirma que seriam necessários pelo menos mais 6 meses de pesquisa para poder confirmar essa relação.
Há poucos meses houve um encontro para conversar sobre a microcefalia, que contou com a presença de três especialistas, um francês, um americano e um brasileiro. Os dois estrangeiros disseram que não era possível estabelecer a relação, apenas o brasileiro fez essa afirmação, conta Thomazine. Claro que na França e Estados Unidos há poucos casos, mas o professor também entende que é muito cedo para afirmar que a microcefalia está de fato ligada ao zika vírus. É preciso mais estudo até uma conclusão.
O maior problema é que existem muitos boatos infundados sendo divulgados e é preciso muito cuidado com isso. A possibilidade de o zika provocar a microcefalia existe, tanto que o vírus foi isolado em amostras neurais de fetos abortados que tiveram microcefalia. Provar que a existência deste vírus no cérebro das crianças foi o responsável pelo desenvolvimento da doença é algo que ainda não foi feito.
Algo que também foi muito divulgado nas redes sociais são afirmações de que casos de microcefalia estariam relacionados a vacinas vencidas contra Rubéola que haviam sido ministradas na população. Thomazine explica que é preciso entender que com o controle de saúde que o Brasil possui hoje é praticamente impossível ter casos de vacinas vencidas sendo ministradas. Um segundo ponto que não bate com o que foi divulgado é que não se vacina mulheres grávidas contra Rubéola.
O destaque que vem sendo dado ao zika é muito importante, mas vale ressaltar que dentre as várias doenças que podem ser transmitidas pelo Aedes aegypti, a pior delas é a Febre Amarela. Com um índice de letalidade de 40%, na iminência de uma epidemia seria necessária uma vacinação maciça da população e talvez por isso a estratégia do Governo não foque tanto no problema, mas ela merece também uma atenção maior. A zika, chikungunya e dengue não possuem vacina.
O tratamento da zika envolve repouso e reposição líquida. Não existe nenhum tratamento antiviral que seja eficiente contra o vírus e o sistema de saúde possui um exame para diagnosticar a zika que é muito caro e demora. A UNICAMP desenvolveu um teste mais rápido e barato que já está sendo utilizado em Campinas, mas ainda não chegou aos outros estados federativos.
A melhor forma de prevenção ainda é o combate ao mosquito Aedes aegypti e para isso é preciso a colaboração de toda a população.
Fonte: Conexão Itajubá / Panorama FM