O gato também tinha filhotes e precisava se alimentar muito bem para tratar da família. Seu único problema era fugir do cachorro feroz. Quando o perdigueiro caçador estava por perto, os pais dos gatinhos ficavam vigilantes. Mas nem o cachorro era completamente feliz. Ele sempre perdia alguns companheiros, que eram levados pela carrocinha. Isso o magoava muito e o fazia mais bravo a cada dia.
Naquela fazenda, apenas a vaca parecia não ser ameaçada pelas provações que os outros animais experimentavam; porém, com o passar do tempo, foi sacrificada pelo dono e virou churrasco. Sua carne alimentou também o cachorro, seu leite fez falta para o gato e, ao rato, nada mudou.
Assim é a vida: lutamos pela sobrevivência, nos preocupamos com os filhos, perseguimos os inimigos, ameaçamos a liberdade dos irmãos, nos acomodamos quando a situação nos favorece, mas continuamos dependendo uns dos outros. Àqueles que julgam estar acima do bem e do mal, quando menos esperam, a provação aparece. E nem sempre as piores consequências machucam os mais fracos – como aconteceu com a vaca da história que perdeu a vida!
Então, como se preparar para sofrimentos marcantes? Rezando e se conscientizando que a felicidade completa só encontraremos no Céu. E como sermos solidários com o sofrimento alheio? Amando os irmãos a ponto de praticarmos a verdadeira caridade: sem exclusão, sem hora marcada, com partilha material e espiritual. Mas, nas provações inesperadas, o que fazer? Bem, isso merece uma reflexão maior.
Há muitas dores na vida que mal entendemos: a perda de um parente próximo, uma traição, um desemprego na família, alguma doença grave e outras mais. Cada caso é um caso e as atitudes que tomamos são distintas, mas, em primeiro lugar, devemos permanecer em oração e confiar na providência Divina.
Da mesma forma, Deus nos dá força e confia na nossa dignidade cristã. Só assim alcançaremos a graça de sermos curados da dor que sentimos. Com humildade e perdão, será ainda mais fácil.
O perdão, por exemplo, é um dom especial que deve ser praticado sempre porque agrada muito ao nosso Pai eterno. Quem não perdoa, sofre as piores consequências e mata sua própria alma. Eu admiro demais quem estende a mão a quem lhe ofendeu. Sei que é preciso muita fé para perdoar, mas somente assim estaremos em sintonia com Deus para anunciar Jesus Cristo a todos.
E ser humilde é um comportamento realmente necessário nas tribulações? Eu sempre digo que sim se a humildade vem do coração. Quem erra, precisa de humildade para se redimir; quem trai, precisa de humildade para pedir e aceitar ajuda. Ser humilde é ser inteligente e usar a sabedoria sempre.
Quem está munido dos sete dons do Espírito Santo vence todas as provações sem vacilar na fé. Quem não os tem, sente-se órfão do amor do Criador de vez em quando. Eis os dons: temor de Deus, piedade, ciência, fortaleza, conselho, sabedoria e inteligência. Há como negar que já praticamos todos eles em nossa vida? Eu, por exemplo, em minha pequenez, os pratico todos os dias – mesmo involuntariamente. Usando e abusando dos dons que confirmamos no Crisma, nos tornamos mais resistentes às tentações. O óleo que recebemos nos deixou mais lisos para escaparmos do pecado.
O selo de cristão nos reveste com o Espírito santificador. É a maior garantia de qualidade que existe! Então, por que temer as provações se a coragem que precisamos vem de Deus? Ele não se doa a nós todos os dias na Eucaristia? Quem não procura Jesus na igreja e no pobre, tem direito de reclamar dos problemas que enfrenta?
Contaram-me a história do comandante de um batalhão que vivia perseguindo um sargento, fazendo-o passar por inúmeros vexames. Certo dia, quando passava em revista à tropa, parou na frente do sargento, puxou o crucifixo que ele trazia na corrente e o jogou no chão. O subordinado, mesmo sabendo que poderia ser punido, saiu de forma, pegou o crucifixo, colocou-o no bolso e voltou à posição de sentido.
Mais tarde, o sargento foi chamado ao comando e achou que receberia uma grande advertência. Ao contrário, o comandante lhe disse: ‘Amanhã lhe darei uma promoção porque se você defende o seu Deus com tanto amor, é digno de ser um oficial do exército para defender a pátria’.
Esse é apenas um tipo de recompensa que recebemos quando enfrentamos as provações com dignidade cristã. Jesus, o Filho da Rainha, morreu por nós e isso prova que jamais nos abandonará. Portanto, coragem! O Senhor marcha à nossa frente!