Um dia recebi este relato de um padre:
“Os doentes do Leprosário do Rio Branco, no Acre, foram reunindo-se no galpão de zinco e leram o Evangelho do domingo seguinte: ‘A visita de Nossa Senhora à sua prima Isabel’. Dona Rosa, sentada junto ao marido, abriu o comentário e começou a falar da paz que lhe dava o conhecimento do Evangelho. O marido seguia suas palavras com um sorriso de satisfação. Há bem pouco tempo ainda, ele a maltratava, invadido por um ciúme doido.
A esposa leprosa era a única coisa que lhe sobrava. Saúde e bem-estar ficaram na triste lembrança do passado. A descoberta da palavra de Deus foi para ele e para a mulher uma verdadeira libertação. Encontrou em Deus e na Sua mensagem um apoio mais firme para um sentido da vida. Assim, reencontrou também a capacidade para amar sua esposa com um amor verdadeiro. Desapareceu o ciúme. Agora, os dois se dedicam de corpo e alma para comunicar aos outros algo da felicidade, da boa notícia que eles mesmos descobriram.”
Esta história veio na hora certa, porque na missa daquela semana, ouvi na primeira leitura:
“O Senhor disse a Moisés e a Aarão: ‘Quando um homem tiver um tumor, um furúnculo ou uma mancha branca na pele de seu corpo e isso virar uma ferida de lepra, esse homem deve ser levado ao sacerdote, a Aarão ou a alguns dos sacerdotes, seus descendentes. Todo homem leproso tem de andar com as roupas rasgadas e com os cabelos assanhados. Precisa tampar a sua barba e gritar: Impuro! Impuro! Enquanto ele tiver esta ferida, deve ser tratado como um impuro. Sendo impuro, tem de morar sozinho e fora do acampamento’.” (Lev 13, 1-2, 44-46).
No Evangelho do mesmo dia, um impuro é curado:
“Naquele tempo, um leproso veio ao encontro de Jesus, gritando por ele. Caindo de joelhos, disse: ‘Se quiser, o Senhor pode me curar!’ Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse: ‘Quero, fique curado!’ No mesmo instante a lepra desapareceu e ele ficou curado.” (Mc 1, 40-42).
São Marcos gosta de contar que Jesus não veio ao mundo apenas para salvar a alma do homem, mas veio salvá-lo em seu corpo e em seu espírito. Também é importante saber que, naquele tempo, as leis hebraicas eram muito severas e violentas. Assim que alguém se percebesse leproso, deveria retirar-se do convívio e sair da cidade com uma campainha no pescoço. O rigor foi ao extremo de passar a doença física para a doença moral: a lepra era considerada castigo e, por conseguinte, o leproso seria pecador e evitado por todos – não só como doente, mas também detestado por Deus!
Bem, Jesus e seus discípulos curaram muitos leprosos, a vida de São Francisco de Assis começa com o encontro com um leproso, e hoje a lepra é totalmente curável – ninguém mais fica ‘impuro’ se estende a mão e toca num enfermo. Jesus quebrou essa ‘lei’ porque sua compaixão é maior do que qualquer lei.
E a nossa caridade, também está acima de qualquer lei? A ajuda e o carinho ao próximo ainda enfrentam barreiras na sociedade? Quantos religiosos realizam missões no meio rural para levar a Palavra de Deus a quem tem fome e sede de justiça! Também leigos partem para as roças confiando na graça e no poder do Espírito Santo! Bonito isso, não? Quando a ajuda é concreta, toda mão estendida com humildade recebe graças imensas!
Esta é uma grande verdade: ‘Quem perseverar nos caminhos de Deus será curado de todos os males que o afligem’. Assim como Jesus curou o leproso e nos libertou dos preconceitos do povo do Antigo Testamento, seus anjos e santos nos ajudam nas libertações espirituais que precisamos; contudo, é preciso sempre buscar a graça.