
É comum apontarmos o dedo para políticos, acusando-os de corruptos, desonestos e sem ética. Nas redes sociais, nos bares e nos almoços de família, não faltam críticas aos “ladrões de colarinho branco” que desviam dinheiro público. No entanto, quantas dessas mesmas pessoas que condenam a corrupção no alto escalão são as que, no dia a dia, dão aquele “jeitinho brasileiro” – seja furando a fila, sonegando um imposto, colando na prova, comprando aquele aparelhinho ilegal para assistir TV ou tentando subornar o guarda para escapar de uma multa?
A verdade é que a corrupção não começa apenas nos palácios do governo. Ela se inicia na normalização de pequenos atos desonestos, naquela mentalidade de que “todo mundo faz” ou de que “só um pouquinho não tem problema”. O sujeito que mente no imposto de renda, o profissional que emite nota fria, o cidadão que estaciona em vaga de deficiente “só por cinco minutos” – todos esses, em suas devidas proporções, estão alimentando a mesma cultura da ilegalidade que tanto criticam nos políticos.
A grande hipocrisia está em achar que a corrupção é um problema exclusivo dos outros, dos poderosos, quando, na realidade, ela também mora nos gestos cotidianos de quem acha que pequenas transgressões são inocentes. Se queremos um país mais justo e ético, não adianta apenas apontar o dedo – é preciso olhar no espelho e perguntar: em que medida eu também contribuo para essa cultura?
No fim das contas, os corruptos e mentirosos não estão apenas no Congresso ou nos gabinetes. Eles podem ser nossos vizinhos, nossos amigos… ou até nós mesmos. A mudança começa quando paramos de achar que “o problema é sempre o outro” e assumimos nossa parte na construção de uma sociedade mais honesta.
Por Demerval Siqueira