Essa priorização, em parte devida às questões de cunho econômico ligadas às instituições (governos e corporações) detentoras de tecnologias, passivas de serem monopolizadas, acaba por refletir em aspectos profundos da organização social, implicando em última análise em um impacto na formação do ser humano. Dessa forma, por exemplo, uma sociedade culturalmente enriquecida estará muito melhor capacitada para oferecer motivos para as pessoas se interessarem pela vida. Caso contrário, uma estrutura baseada em técnica e tecnologia promove a aceleração do processo de desumanização, e consequentemente, do desinteresse pela vida ou interesse pelas vantagens imediatas do plano material.
Quando uma sociedade não tem nada de profundo a oferecer ou não valoriza o íntimo de seus habitantes, ela se torna uma sociedade de valores superficiais, sendo este o princípio da sociedade de consumo; aquela em que os seres são reconhecidos de acordo com seu potencial de consumo, e não pelo que eles são. Buscar profundidade como fundamento para a construção social implica em um movimento que deve iniciar pelo lado mais íntimo de cada ser, almejando a construção do mesmo de dentro para fora, cultivando-o, e nunca de fora para dentro, explorando-o. Alguns se reconhecem a partir do que têm (teres humanos) e não pelo que são (seres humanos), o que além de torná-los frágeis interiormente torna-os vítimas do próprio apego em suas manifestações mais variadas.
O processo de formação e educação hoje se estabelece sobre um modelo que favorece os que sabem mais e castiga quem sabe menos. Pessoas são encorajadas a estudar por algo externo a elas como uma carreira, em detrimento de estudar para acrescentar valores e se desenvolver interiormente. Este processo repetido por vários anos na vida da pessoa estimula que o sistema de valores se volte para fora e se baseie na comparação e em títulos adquiridos. Se por um lado isso pode fazer algum sentido num primeiro olhar em que o mais capacitado será privilegiado, por outro, traz em si a semente do individualismo. Uma sociedade embasada no individualismo tende a se tornar mais aparelhada tecnicamente, porém menos do ponto de vista humano. Acredito que o estudo da ciência da moral (Moralogia) possa ser uma saída saudável antes que se atinja um ponto sem retorno em que o lado selvagem dos homens seja cada vez mais evidente e o lado sublime cada vez menos valorizado.
Viver na superfície da personalidade, sem o contato com a essência profunda pessoal, esvazia a pessoa tornando-a vulnerável ao desenvolvimento de dores intratáveis, dores na alma. Em última análise, cada um é a melhor criação física que a essência pode manifestar na forma de vida. Negligenciar a essência é como construir uma casa sem colunas de sustentação. Existe liberdade para escolher a forma de estruturar a existência, mas não para escolher os resultados. A Moralogia ensina que não somos culpados, mas responsáveis pela nossa situação de vida. A culpa é passiva enquanto a responsabilidade é ativa e auxilia a perceber nas atitudes tomadas o meu papel como gerador da situação e como revertê-la, se for o caso.
Pessoas com potencial para desenvolver dores psíquicas podem aparentar sucesso, mas a sensação de que tudo está dando “certo” na vida, que acompanha o sempre conseguir o que se quer, deve ser um alerta. Dentre as formas de conquistar objetivos existem situações do tipo ganho-ganha (todos os envolvidos ganham) e situações do tipo perde-ganha (uma parte ganha e a outra perde). Buscar situações do tipo ganho-ganha e evitar ao máximo e na medida do possível o envolvimento com as situações do tipo perde-ganha é um método preventivo eficiente para dores do tipo psíquicas.
O tratamento para as dores psíquicas se baseia nos processos que levam à expansão da consciência, estratégias para aprofundar o autoconhecimento, desenvolvimento e aperfeiçoamento do caráter e virtudes pessoais e finalmente, mas não menos, no cultivo da coerência entre pensar, falar e agir no mundo. Apesar da melhoria técnica nos processos de aprendizado e formação profissionais, o empobrecimento humano e cultural nas diversas áreas de atuação é nítido. Existe uma qualidade de conhecimentos que para serem aprendidos requerem um desenvolvimento do caráter, que não acontece por si só, principalmente em uma sociedade cujos veículos de informação ainda têm o costume de chafurdar as profundezas e fingirem de cegos ao belo, bom e verdadeiro, fundamentais à alimentação do ser humano integral e para a formação do bom profissional em todas as áreas. Caráter e destino são dois aspectos de uma mesma realidade e sempre que situações difíceis se apresentam é importante considerar melhorar o primeiro antes de se queixar do segundo.
Três elementos básicos e seus tratamentos no sentido de desenvolver a habilidade no manuseio das dores de natureza psíquica:
1- Efemeridade da vida à Prática do desapego
2- Prisão da certeza à A dúvida é privilégio do sábio, a certeza a marca do ignorante
3- Ganância à Serviço amoroso e desinteressado
A prática é a teoria coroada, e certas lições só podem ser aprendidas quando ocorre a entrega na experiência. Saber algo guarda relação com a palavra latina sapere, ou seja, sentir o gosto, saborear. Assim, saber é vivenciar algo interior e intimamente, mais que compreender e repetir racionalmente.
Tente explicar a alguém o gosto da berinjela? Que palavras você usaria?
“Nada designa melhor o caráter de um povo que aquilo que ele acha ridículo” (Goethe)
“Eu sou livre de tudo o que sei, mas sou escravo de tudo o que ignoro” (Espinoza)
“Nada do que é digno de ser conhecido pode ser ensinado” (O. Wilde)
“Pratique a nobreza divina e a nobreza humana naturalmente o acompanhará” (Mêncio)