O verde está sumindo e o amarelo ficando azul
Foto de Paulo César Lima
http://www.flickr.com/photos/paulocesarlima
Às vezes penso no porquê de muitos amigos não apreciarem política, no meu entender, a arte do bem comum ou da saúde social. Não, não creio que seja devido a serem profissionais de saúde, afinal vários deles também são profissionais da política, já teve até presidente médico! Arrisco assim, que após a morte da democracia, na figura de Sócrates que ensinava perguntando e que sabia que nada sabia, um pouco de cada um se foi também, daí o desinteresse de uns enquanto o oportunismo de outros.
Sócrates (Σωκράτης, 469 – 399 a.C.) conversava em sua simplicidade e não oferecia certezas, mas dúvidas e possibilidades, portões de entrada para o reino do saber ou ainda pedras angulares na construção do ser. Mais tarde, Hipácia de Alexandria (Υπατία, 355 – 415 d.C), esposa declarada da verdade, prosseguia em linha similar, tendo um fim ainda mais cruel. Ao leitor atento, sugiro que observe a simetria dos séculos em que estes luminares estiveram entre nós, ao redor do advento do Cristo na figura de Jesus. Quatrocentos anos antes e quatrocentos depois do marco zero do calendário que norteia a cultura moderna. É realmente impressionante a capacidade humana de destruir o que pode salvá-la… Habitar o presente, na memória dos semelhantes é a sina dos construtores da sociedade no projeto de concepção da família humana.
Para se dar conta de como esta sobrevivência temporal é algo milagrosa, tente lembrar o nome de seu tataravô! Meus falecidos avós contaram que um meu tataravô, engenheiro, veio de longe a convite de D. Pedro II para orientar e auxiliar na construção de ferrovias. Ouvi dizer que naquela época a malha ferroviária de uma nação como o Brasil seria fundamental no processo de desenvolvimento e integração. Acho que eles tinham razão, nos Estados Unidos, na França, na Alemanha e no Japão pude comprovar pessoalmente como as ferrovias são abundantes, modernas e bem aproveitadas. Estranho a carência desta opção em favor das rodovias neste país continental que habito. Ainda não entendi direito a opção pelos combustíveis fósseis… Que isso não seja decorrência do clamor incessante de estarmos deitados eternamente em berço esplêndido. Quem anda de lado é caranguejo, quero andar em pé, e você?
Mais do que nunca a instituição dos três poderes precisa de uma medicina, não para curá-la, o que seria muito pretensioso, mas torná-la um pouco mais saudável aos olhos e ouvidos. Absolutamente não me refiro aqui à nata sobrenadante do poder tripartite a qual merece reverência profunda, mas àqueles que constituem o sedimento, que a partir das profundezas gera um movimento causando a impressão de que a estrutura está infiltrada e corroída em todas suas instâncias. Deus permita e ajude que a nata seja soberana na educação e no saneamento dos detritos sedimentares.
Em minha 6ª série no Arquidiocesano de São Paulo, o professor Bertoli, da matemática, pedia na chamada que ao invés de “presente”, lêssemos duas frases (os ímpares e os pares se alternavam). A primeira: “A perfeição é feita de pequenas coisas, mas a perfeição não é uma pequena coisa” e a segunda: “Não soluce, solucione”. Até hoje não sei se entendi, mas acho que querem dizer que detalhes podem fazer muita diferença e que ao invés de reclamar das coisas devemos fazer algo para que elas possam ser diferentes.
“O povo não tem pão? Que coma brioches!”
(Confissões, Jean-Jacques Rousseau 1766, pouco antes da revolução francesa em 1789)
http://www.youtube.com/watch?v=4P2QXsvxa6Y&
Como diz o articulista Macaco Simão na folha de São Paulo de 03/07/11: “O pão é francês e a rosca é brasileira”. O caráter circular da história sempre intriga e quem sabe espiral seja termo mais adequado, apesar destas espirais estarem mais para um estado comprimido que distendido, para os que me compreendem. Em suma, estamos enquanto humanidade, aprendendo praticamente sempre a partir do sofrimento. Recentemente Gandhi e Tereza de Calcutá ensinaram a não gerar oposição ao que está ruim, mas a favor de algo que valha a pena, não violência (ahimsa). Dizem que ela, sempre convidada a participar de passeatas contra as guerras, nunca teria ido a uma sequer. Entretanto nunca teria deixado de comparecer àquelas passeatas pela paz. Quanto a aprender!
Impressiona muito a recente intensidade da crítica dos cartunistas diariamente chamando nossa atenção às vezes sutil e outras grosseiramente falando:
http://www.slideshare.net/rjleme/sobre-poltica
Do ponto de vista médico creio ser importante uma dieta alimentar que se preste a “emagrecer” nos olhos e “engordar” nos ouvidos. Talvez se estas pessoas “desgovernadas” forem medicadas com amor, tenham alguma chance de não serem consumidas pelas suas paixões e desejos. Cada vez são mais comuns notícias de pessoas dessa classe trabalhista com doenças consumptivas (câncer, doenças degenerativas e demências), o que me faz perguntar se as doenças imitam a forma que se escolhe viver. Quem sabe ao invés de um aumento nos vencimentos, um aumento real na jornada de trabalho possa ser um tonificante para a vontade e caráter? Torçamos menos para times de futebol e mais para que nossos representantes sejam iluminados no momento de distribuir as verbas arrecadadas a partir dos impostos que só aumentam. Sinceramente espero que a corda de seus acordos seja para acordar e concordar e nunca para enforcar ou amarrar os desejos mais nobres dos que partilham o ideal de viver em paz numa sociedade mais cooperativa e menos permeada pelos exemplos de improbidade que eventualmente são mostrados e explorados. A qualidade das pessoas é conhecida não pela atitude pública, mas na intimidade. Nesse sentido, que a experiência a seguir não lhes seja familiar, e que as muitas tentações ao caráter possam encontrá-los quando sua musculatura moral esteja em boas condições.