TDAH, PMD, TAB, HAS, DM, síndrome do pânico e síndromes afins. Que tal se as enquadrássemos todas em um termo único, algo como Síndrome da falta de educação ou Síndrome da consciência pouco desenvolvida?
Muitas dessas “coisas” são produtos de uma sociedade “moderna” e doente nos seus hábitos, sejam eles alimentares, comportamentais ou mesmo dissociativos midiáticos, se me permitem o neologismo. Os aparelhos eletrônicos são geradores de doença, a quantidade de informações a que somos expostos são geradores de doenças, a começar pela ansiedade que promovem na forma ostensiva de publicidade, na inconseqüência das informações e assim vai…
Acho que TDAH e suas siglas irmãs, não são transtornos, mas uma resposta natural do corpo ao que a sociedade contemporânea está oferecendo às pessoas! O corpo está nos ensinando que a direção para a qual estamos indo não é legal! Não devemos anestesiar o corpo com medicamentos, mas escutar o que ele nos está falando!
Cada vez mais virtual, não importa mais gostar ou não do que faz, o homem está obsoleto, não consegue mais processar informações. A criança diante de brinquedos de plástico e do videogame toma decisões rápidas e na frustração de não superar a máquina, molda seu futuro.
Como você sabe, algumas companhias já oferecem, após a morte, serviços de criopreservação para cérebro apenas ou corpo todo, de acordo com quanto o cliente esteja disposto a pagar. Já se fala em downloads de cérebro num novíssimo e atualizado corpo humano virtual que seja capaz de viver a partir dos desejos e sonhos do outro…
Fundamental aqui parar para lembrar as palavras do sábio Inácio de Loyola:
“Não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear as coisas internamente”
Finalmente pergunto: tudo isso para quê? Para sustentar uma estrutura comercial que produz supostas substâncias que podem melhorar estes sintomas?!?! Aprendi cedo na medicina que tratar sintomas é enganar ao paciente e se enganar como médico. Claro que aqui é preciso o bom senso de analisar cada caso e eventualmente medicar quando necessário. O fato é que a real necessidade de medicar é mínima frente à grande necessidade de conscientizar, dar significado à existência, promover sentido na vida do dia a dia.
Finalmente, se faz fundamental resgatar a simplicidade no viver, indiscutível medicamento que vai além do corpo, chega até a alma da pessoa, onde ela pode se lembrar, em termos socráticos (vide: Mênon, na República de Platão), daquilo pelo que ela veio à vida!
“Saúde é Consciência” e oportunidade para a vida plena. Acredito cada vez menos em siglas de doenças e cada vez mais na lucidez no viver.
Uma lucidez que ajude a pessoa a se preparar a cada dia com mais seriedade e serenidade para o grande dia, o dia em que deixará o corpo físico, o dia de sua morte. Falar e pensar na morte não é mórbido; aliás se a tivéssemos como conselheira, certamente pensaríamos melhor antes de fazer certos acordos, como por exemplo mostra o filme “Encontro Marcado” (Meet Joe Black) com Anthony Hopkins. Se tiver um tempinho a mais, veja também “O sétimo selo” de Ingmar Bergman e ainda “Ikiru” (Viver) de Akira Kurosawa. Quanto mais leveza e quanto mais coerência no viver, menos seremos reféns das circunstâncias e truques da atualidade que oferecem soluções medicamentosas que não promovem consciência, mas pelo contrário, a obscurecem.
Veja você, amigo desconhecido, que o medo hoje move o mundo. Observe as notícias, veja que toda a idéia de seguros e segurança se baseia no medo! As pessoas que acabam de ter filhos, como vários amigos meus, são visitadas por outras que vendem seguros para mascarar o medo de que algo possa comprometer o futuro da criança. Esquecemos do presente para viver no futuro! Isso só pode gerar ansiedade e distúrbios afins, é normal, só um doente apático não responderia com ansiedade ou depressão. A ansiedade e a depressão estão nos ensinando algo e nesse sentido não devem ser combatidas, mas compreendidas e sanadas em suas raízes sociais. Você já leu o livro de dois autores alemães: “A doença é o caminho”? Nele, os autores desenvolvem de forma criteriosa este pensamento que compartilho com você.
Acho que o pensamento Steineriano é uma saída honesta para o que se apresenta atualmente, veja você este texto escrito por ele em 1910:
“É preciso erradicar da alma todo medo e terror do que o futuro possa trazer ao homem. É preciso adquirir serenidade em todos os sentimentos e sensações a respeito do futuro. É preciso que olhemos para frente com absoluta equanimidade para com tudo que possa vir. Precisamos pensar somente que tudo o que vier nos será dado por uma direção mundial plena de sabedoria. Isto é parte do que temos de aprender nesta era, a saber: viver em pura confiança. Sem qualquer segurança na existência; confiança na ajuda sempre presente do mundo espiritual. Em verdade, nada terá valor se a coragem nos faltar. Disciplinemos nossa vontade e busquemos o despertar interior todas as manhãs e todas as noites.”
(Rudolf Steiner – Bremen 27.11.1910)
Não será preciso aumentar impostos para a fábrica de doenças se os governantes se derem conta de que são necessários apenas pequenos ajustes nos meios de comunicação, em suas próprias condutas e na conscientização pelo exemplo de nossa imensa população de analfabetos funcionais (que se formam sem terem aprendido nada), na direção da saúde. Doença e Saúde são conceitos distintos e dissociados entre si, e dizem respeito à forma como se escolhe viver. Note que hoje existem inúmeros planos de doenças, que salvo raras exceções, estão falindo em conjunto com a saúde pública, mas nenhum, até onde eu sei que seja plano de saúde conforme o nome propõe! Ou você já viu algum plano orientando pessoas saudáveis quanto a conselhos para um bom viver? Eu nunca vi! Aliás, fica aqui a dica para os empreendedores, não cobrarei nada pelo sucesso que vocês terão, podem usar a idéia…
Nesse sentido cabe a nós profissionais, produtos da ciência, doutorados e pós graduados, apontar para quem não viu o que sustenta esse universo, um pouco de sua realidade…
Bem, é isso o que penso. E você leitor, o que acha disso tudo?