Olá pessoal!
Nas últimas semanas, manchetes otimistas chamaram a atenção: a economia brasileira cresceu 2,9% no primeiro trimestre de 2025 em comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo dados divulgados pelo IBGE. Esse avanço foi impulsionado, principalmente, pelo setor agropecuário, que teve alta de 12,2% devido à safra recorde de soja. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, o crescimento foi de 1,4%, o que também indica uma trajetória positiva. Além disso, a renda média da população brasileira atingiu R$ 3.225, sendo o maior valor registrado desde o início da série histórica em 2012.
Esses números mostram que a economia está, de fato, avançando. Mas ao olhar para o lado (ou para o próprio bolso) muita gente ainda não sente essa melhora. Pelo contrário: a busca por uma renda extra nunca foi tão comum.
Essa aparente contradição levanta uma pergunta essencial: se a economia está melhorando, por que tantas pessoas continuam precisando fazer bicos, vender alguma coisa ou pegar trabalhos extras para complementar a renda?
A resposta exige um olhar atento para além das médias. A renda média, por exemplo, é um cálculo que considera todos os rendimentos (inclusive os mais altos). Mas no Brasil, os 10% mais ricos ainda ganham cerca de 13 vezes mais do que os 40% mais pobres. Isso significa que o aumento na média pode não refletir a realidade da maioria das famílias, que continuam ganhando pouco e sendo altamente afetada pelo alto custo de vida.
E por falar em custo de vida, a inflação segue pressionando o orçamento das famílias. Em abril de 2025, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses foi de 5,53%, acima do teto da meta estabelecida pelo Banco Central. Isso significa que alimentos, combustíveis, aluguéis e contas básicas estão mais caros. Mesmo que o salário aumente um pouco, ele perde força quando os preços sobem mais rápido. Para muitos brasileiros, viver virou um malabarismo mensal entre pagar contas, comprar comida e tentar guardar algum dinheiro, o que nem sempre é possível.
Outro fator que ajuda a explicar esse cenário é o endividamento. Dados recentes do Banco Central mostram que o endividamento das famílias brasileiras com o sistema financeiro atingiu 48,6% da renda em março de 2025, um dos níveis mais altos já registrados. Cartão de crédito, empréstimos e financiamentos são usados, muitas vezes, para pagar despesas básicas. É como se parte do salário de hoje já estivesse “emprestada” para pagar o que ficou do mês passado. Nessa situação, a renda extra entra como uma tábua de salvação, seja para quitar dívidas, seja para garantir algum conforto.
Além disso, o tipo de trabalho que muitos brasileiros têm também conta nessa equação. A informalidade ainda é alta: muitas pessoas trabalham sem carteira assinada, sem garantias, sem previsibilidade. Outras têm empregos com salários baixos, que mal cobrem as necessidades do mês. Diante disso, vender doces, fazer entregas, costurar, dar aulas ou dirigir por aplicativo virou uma alternativa, não por luxo, mas por sobrevivência.
Mas nem tudo é necessidade. Em alguns casos, a busca por uma renda extra também reflete uma mudança de comportamento. As pessoas estão percebendo a importância de não depender de uma única fonte de renda, de se preparar para imprevistos, de construir alguma reserva para o futuro. É como se a população tivesse entendido, na prática, que educação financeira não é coisa de gente rica, mas sim de quem quer viver com um pouco mais de tranquilidade.
No fim das contas, os bons indicadores da economia são bem-vindos e devem ser comemorados. Mas eles precisam ser acompanhados de medidas que garantam que os frutos desse crescimento cheguem a todos. Mais empregos com carteira, acesso ao crédito justo, políticas de inclusão produtiva e educação financeira acessível são caminhos possíveis.
Enquanto isso não acontece de forma ampla, a renda extra continua sendo, para muitos brasileiros, mais que um complemento: é uma necessidade.
Esperamos que tenham gostado do nosso painel de hoje. Até a próxima!
AUTORES: Prof. Dr. André Luiz Medeiros e Prof. Dr. Moisés Diniz Vassallo