Quando eu era bem jovenzinha, os adultos diziam que “o melhor da festa é esperar por ela.” Eu ficava preocupada. Por que seria assim?
Certa vez, já estudante de Logosofia, pesquisando sobre a faculdade de imaginar, descobri que sua função é colocar imagens em ação quando nos propomos criar ou realizar algo. Porém, se é estimulada pela ilusão, a imaginação pode nos afastar da realidade. Foi aí que entendi: esperar pela festa podia gerar na minha mente imagens ilusórias, coloridas, cheias de fantasias e fora da realidade. E, depois da festa, o desencanto.
Mas o que tem a ver essa observação a respeito da vida com a felicidade, que é o tema que escolhi para falar com você?
Na Logosofia encontrei explicações que me ensinaram como conquistar a felicidade. É preciso valorizá-la e conquistá-la conscientemente.
Vou contar para você alguns episódios em que fiz esse esforço.
Minha avó materna vivia na cidade e gostava de ir às matinês aos domingos. Saía toda linda, a meu ver. E o que eu mais queria era vê-la se aprontando, se maquilando. Com o tempo, concluí que a vovó Mariana não gostava de crianças, não gostava de mim.
Minha avó paterna vivia na fazenda. Nós a visitávamos sempre no final do ano. Lá chegávamos e já encontrávamos tudo preparado. Era uma festa passar as férias na fazenda, com a vovó Etelvina!
A minha mente infantil raciocinou: Vovó Etelvina gosta de mim. Vovó Mariana, não.
E a felicidade?
Já adulta, organizando minhas coisas, revi dois presentes da vovó Mariana. Trabalhos que ela produziu e me presenteou. Como? Vovó Mariana fez estes dois presentes para mim? Deu muito trabalho… Oh!… Vovó Mariana também me quis bem.
Felicidade foi corrigir em meu pensar e sentir um conceito tão equivocado que eu trazia durante anos dentro de mim. Eu fui amada por minhas duas avós, cada uma de seu jeito… que maravilha!
A Logosofia diz: “A felicidade é algo que a vida nos dá através de pequenas porções de bem.” É preciso aprender a perceber essas porções de bem, ser consciente delas, valorizá-las e deixar que elas embelezem nossa vida.
Veja só, compreendi que a felicidade pode estar no ato de corrigir equívocos, preconceitos, ideias mumificadas que norteiam nosso comportamento, nossa forma de pensar.
Há alguns dias, entrei em uma pequena mercearia para comprar uma garrafa de 2 litros de água. Cheguei perto da prateleira e vi que havia apenas uma garrafa restante. Parei para pegar a garrafa que atendia a minha necessidade, quando simultaneamente uma senhora mais jovem me cumprimentou, tirando por um instante minha atenção do objeto. Então, eu me virei para ver quem era.
Ela simplesmente passou a mão na garrafa e sem a menor preocupação foi embora com ela. Fiquei espantada! Identifiquei os pensamentos que a fizeram ter este comportamento tão indelicado. No primeiro momento fiquei indignada, desapontada, mas logo em seguida uma reflexão sensata me encheu de felicidade.
Sabem por que me senti feliz frente aquela situação tão inusitada?
Compreendi que jamais teria um comportamento semelhante. Por isso, senti uma grande felicidade. Saí dali tranquila, feliz e, na próxima esquina, num sacolão, encontrei muitas garrafas de água.
Meu querido leitor: a felicidade não é casual, não é sorte de um momento feliz.
Há dias, eu estava na academia fazendo meus exercícios ao lado de outros colegas e assistida pelo fisioterapeuta. De repente, uma colega me pergunta:
— Por que você é assim?
Surpresa, perguntei:
— Assim como?
E ela acrescentou, agora acompanhada por todos que me olhavam como se estivessem também perguntando:
— Assim, sempre alegre, não reclama, não se mostra triste, desanimada, faz graça, gosta de rir…
Senti um grande bem-estar interno e, olhando-os com simpatia, disse:
— Sou assim porque sou feliz!
Um pensamento de Neuza do Carmo