Quando a gente se reúne e começa a falar de baratas, cada uma tem uma experiência terrível pra contar. Eu mesma tenho algumas. Quando ainda morava na casa de meus pais, já estava deitada com livro na mão quando pressenti, este é o verbo correto porque barata a gente não vê de cara, a gente pressente que ela está, que ela é. Bom, pressenti e vi em seguida uma graúda, marronzona, voadora (ela não voou, mas tenho certeza de que voava), nojenta, na maçaneta da porta. Eu estava acuada, sem saber o que fazer. Para chamar minha mãe, eu teria que abrir a porta, nem morta! Aí tive a idéia. Mesmo de pijama, pulei a janela do meu quarto e apertei a campainha da casa. Já era tarde e minha irmã veio abrir a janelinha da porta para ver quem poderia ser naquela hora da noite. Espantadíssima porque já tínhamos nos dado boa noite, ela perguntou, o que você está fazendo de pijama aí fora? E eu, chama a mamãe urgente e fala pra ela matar a barata que está na maçaneta da porta do meu quarto. Só mato se não houver ninguém mais no mundo, apenas eu e ela.
De outra feita, já casada, topei com uma barata no andar de cima e desci com o coração aos pulos, fui acordar meu marido, que bom que foi ter casado! Ele subiu, zonzo de sono, matou a barata, desceu e voltou a dormir tranquilamente, igualzinho a minha mãe. Mas quem tem medo de barata, sabe por intuição quando o perigo ainda ronda. Alguma coisa dentro de mim gritava que essa barata não estava morta. Subi, morrendo de medo e não é que eu estava certa? A barata que eu vi com meus próprios olhos, esmigalhada no chão, não estava lá, ela estava viva e havia escapulido como nos filmes de suspense em que depois que a gente pensa que pode relaxar porque o bandido morreu, ele se arrasta e se esconde só Deus sabe onde. Com muita coragem, na ponta dos pés procurei e lá estava ela, no banheiro, meio desfigurada, mas viva e valente. Desci, acordei meu marido novamente e implorei que ele matasse a barata que não tinha ficado bem morta. Ele foi. Isso foi há anos atrás, quando tínhamos acabado de casar, não creio que agora ele fosse matar a barata pela segunda vez, ou pior, talvez preferisse matar a mulher e ficar com a barata.
Bom, mas uma experiência bizarra foi a de uma amiga que foi para São Paulo com outra amiga. As duas ficaram no apartamento da filha que estava viajando. E lá pelas tantas, uma barata apareceu para dar as boas vindas. As duas entraram em pânico, mas como estavam de duas, uma deu força para outra e travaram uma luta infernal com vassouras e tudo o que estivesse por perto. Só que a barata sumiu e estava vivinha. Minha amiga telefonou para sua comadre de São Paulo e disse, o negócio é o seguinte, a barata está aqui e nós não vamos conseguir dormir, como é que faz? Aqui é que não podemos ficar. Então a comadre tomou um táxi e foi buscar as duas para a casa dela. Resolveram ficar por lá até o fim da estada em São Paulo.
Antes de ler “A metamorfose”, de Kafka, tive receio, a aflição foi grande, mas a história é filosoficamente estupenda.
E há muitas outras histórias de baratas que dariam um livro, filmes de terror, dissertações, teses, tratados e ensaios filosóficos. Para finalizar – minha colega de banco, depois de quebrar a vassoura e o cabo da vassoura de tanto matar a barata, não parava de bater e gritar, numa crise histérica sem precedentes. A casa foi invadida por vizinhos que julgavam estar a moça sendo trucidada por facínoras. E de pensar que essa praga de barata não vai desaparecer nem com bomba atômica!