O suicídio é tema cercado de tabus.
Não deveria ser, porque vem aumentando vertiginosamente no mundo todo, em especial entre nós, brasileiros.
Há quem defenda que não se deve falar abertamente sobre o tema, para não estimular pessoas a repetirem o ato. Na verdade, o que não se deve fazer é sensacionalismo; falar sobre o suicídio com responsabilidade é a única forma de ajudar pessoas em crise.
No Brasil, um indivíduo se suicida a cada 45 minutos, diariamente. Médicos e estudantes de medicina têm taxas de suicídio 3 vezes superiores ao da população geral, e entre eles, mulheres superam os homens em quatro vezes (na população geral os homens superam as mulheres).
E mais um dado terrível: a cada suicídio consumado, há cerca de 10 tentativas sem êxito.
As autoridades de saúde alertam para o fato de que essas taxas vêm subindo aceleradamente no mundo todo.
O que vem acontecendo com o valor da vida?
Muitas das causas podem ser idênticas para médicos e não médicos, com o agravante de que médicos têm maior facilidade de acesso a substâncias químicas.
No mais, o vácuo espiritual no qual estamos todos mergulhados, os valores que nos regem atualmente, materialistas e egocêntricos, as desigualdades sociais, a violência generalizada, a crueldade insana das guerras, as ameaças contínuas à sobrevivência da humanidade, tudo isso é combustível para que o valor da vida humana seja relativizado.
O suicídio é o desfecho trágico da qualidade inferior da vida em uma sociedade em que a empatia perdeu valor, em que o Eu se sobrepõe ao Nós, em que pais abandonam os filhos à própria sorte desde cedo.
Toda uma sociedade está doente, carente de objetivos humanos e superiores.
E nós, os médicos, a quem caberia cuidar da vida e do valor e da qualidade da vida das pessoas, parece que sofremos mais do que todos!
Graça Mota Figueiredo