Aos familiares, porque perder alguém que decidiu terminar com a vida deixa uma herança terrível de culpas e acusações, que não raro “explodem” a família.
Às autoridades de saúde do mundo todo, porque o suicídio ameaça se tornar uma epidemia de difícil controle. Além do mais, os custos com a recuperação dos que não conseguiram o seu intento são anormalmente altos.
Aos psiquiatras que, dentre os médicos, são aqueles que mais ouvem pedidos de socorro através da depressão.
E eu posso imaginar a infinita dor, o abandono da esperança e a solidão terrível que muitas vezes são a única companhia do suicida por longo tempo, até que uma circunstância qualquer os encoraje a se matar.
Tenho um certo número de pacientes no consultório que já tentaram suicídio algumas vezes e que continuam pensando na morte como solução.
Com eles aprendi que nem sempre o suicida quer a morte, realmente; com frequência ele deseja parar de sofrer, e não conseguiu fazê-lo com nenhum remédio ou nenhuma atitude que aprendeu.
Às vezes até mesmo ele parece desistir da ideia por algum tempo, mas parece que o impulso está sempre lá, à espreita de alguma dor adicional que destrua o equilíbrio instável vida-morte.
Nenhum de nós está a salvo de tragédias que ameacem o sentido de continuar vivendo: a morte de um filho, uma falência rumorosa, um divórcio destrutivo, e são inúmeras as oportunidades que a vida distribui a esmo, de se perder a vontade de viver.
Mas existe, estou certa disso, uma razão maior para que se perca a vontade de viver: a falta de um sentido espiritual maior…
O ser humano precisa acreditar em um poder superior, seja esse poder chamado pelo nome de Deus ou por qualquer outro nome que represente a fé na vida e a certeza de que existe um objetivo maior para estarmos vivos.
Quando essa crença nos falta, nada mais nos prende ao imprevisto de viver!
Maria das Graças Mota Cruz de Assis Figueiredo
Profa. Adjunta de Tanatologia e Cuidados Paliativos
Faculdade de Medicina de Itajubá – MG