Em São Paulo, existe uma família muito pobre. O pai, chefe da casa, é pobre, a mãe é pobre e os dois filhos estão crescendo pobres. A faxineira que trabalha para eles também é pobre, assim como a governanta e a cozinheira. E para não restar dúvidas de que a pobreza é geral, a professora de piano da filha e o professor de equitação do menino são igualmente pobres. Ah, os empregados das fazendas e das indústrias que pertencem à família, também são todos pobres.
Bem, se você está rindo ou não está entendendo direito o relato, eu explico.
O patrão, Dr. Castro, é um empresário bem sucedido nos negócios, mas pobre de espírito. Ele é incapaz de se sensibilizar com o sofrimento do ser humano e paga muito mal os seus empregados. Quando imagina que alguém pode lhe causar prejuízo, não vacila em despedir a pessoa. Rezar? Nem pensa nisso!
Sua esposa, a exuberante Letícia, faz questão de ser reconhecida como ‘a mais elegante do bairro’. Participa de jantares para ricos toda semana, mas nunca ninguém a encontrou numa missa ou festa beneficente. Suas roupas vêm da Europa e são feitas exclusivamente para ela. Certa vez, viu na televisão um vestido parecido com outro que havia comprado e viajou imediatamente para o exterior – foi procurar outro costureiro.
E se os pais são assim, imagine os filhos! Têm tudo o que querem e mais um pouco, porque dinheiro não é problema. Acho que nunca ouviram falar de caridade e só pensam em diversão. Pra falar a verdade, estudam apenas o suficiente para passarem de ano e ficarem livres dos ‘professores chatos’, como eles mesmos dizem. Embora menores de idade, são chamados de ‘senhor e senhorita’ pela governanta.
Um outro tipo de pobreza afeta a vida dos empregados da mansão: mal ganham para sobreviver! Veem o luxo e a riqueza por toda parte, mas não podem levar sequer um pouco de açúcar para casa. Um dia, Maria, a cozinheira, disse à patroa:
– Dona Letícia, perdoe-me pedir isso, mas estou sem dinheiro para comprar leite e a minha filhinha todo dia quer beber um pouco antes de dormir. Será que daria para a senhora deixar eu levar o resto que está na geladeira?
A resposta foi curta e grossa:
– Você não sabe que usamos a sobra para tratar dos gatos? É um leite gordo e faz mal para crianças!
Nas indústrias, os funcionários já fizeram greve duas vezes e, aqueles que ficaram à frente do movimento, foram demitidos. Hoje, como imaginam que conseguir outro emprego é difícil, mesmo ganhando pouco e desmotivados, os atuais empregados se sujeitam ao salário mínimo e a cara feia do patrão.
Mas, é engraçado muita gente repetindo que gostaria de ser como o Dr. Castro, ou seja, milionário! Será que dinheiro no banco é o mais importante? Para quem não pensa na salvação da alma, ser rico certamente é um grande sonho, porém, a professora de piano da filha de Letícia, por exemplo, é muito mais feliz do que todos da casa.
Ela corre bastante atrás de alunos para poder ganhar um pouco mais e pagar sua faculdade a cada mês, também não pode comprar roupas e andar bem arrumada, mas, quando chega o final de semana, participa com muita alegria de uma reunião de caridade. Ela é vicentina! E servindo o pobre, a professora sempre se encontra com Jesus Cristo e ganha forças para carregar sua cruz com dignidade. Ela é pobre em espírito, mas não pobre de espírito.
A pianista, portanto, não tem inveja dos afortunados, muito pelo contrário, oferece-lhes ajuda também, mas eles não têm tempo para a caridade! Ela até se prontificou em levar os filhos de Letícia para a catequese, mas foi informada que precisam se isolar por causa dos sequestros!
Felizmente, sabemos que quem não tem tempo para oração e caridade, vive perdendo tempo, não é mesmo? Por isso, eu peço sempre: ‘Senhor, dai-me saúde, paz e fé’; o resto, eu deixo para o Dr. Castro esnobar – ele pensa que sabe viver melhor do que nós!
E se amar é bom, realizar obras santas é ótimo! Mas, para fazermos bom uso da sabedoria que Deus nos deu, devemos ter por base esta história:
Um rei pediu ao súdito que fosse ao grande mercado do reino e lhe trouxesse o objeto mais precioso que encontrasse. Ao retornar ao palácio, o empregado lhe apresentou uma língua sobre a bandeja de prata. E o rei perguntou:
– Não havia nada melhor do que isto?
– Vi muita coisa bonita e valiosa, mas somente a língua fala de amor, perdoa, agradece e louva a Deus.
– Então, súdito fiel, volte lá agora e traga-me o que encontrar de mais repugnante.
Após algum tempo, em outra bonita bandeja, o humilde servo entregou a encomenda ao monarca, que perguntou assustado:
– Língua novamente? O que significa isso?
– Senhor, a mesma língua que agradece, também acusa e é responsável por diversas maledicências. Tudo depende do uso que fazemos dela!
Lembre-se, portanto, que a sua língua sempre será uma das responsáveis pelo seu grau de pobreza de espírito. Cuide bem dela!