Quando falo aos alunos sobre comunicação com o paciente, especialmente nos momentos em que o que se quer comunicar não são boas notícias, mostro este depoimento verídico de uma estudante de enfermagem (que poderia ser qualquer um de nós, e poderia estar falando com qualquer profissional de saúde):
“Sou uma estudante de enfermagem. Estou morrendo. Escrevo isto para vocês que já são e para os que se tornarão um dia enfermeiros, na esperança de que ao repartir com vocês os meus sentimentos, vocês sejam mais capazes de ajudar àqueles que partilham a minha experiência.
Agora estou fora do hospital – talvez por um mês, por seis meses, por um ano – mas ninguém gosta de falar sobre essas coisas. Na verdade, ninguém gosta de falar muito a respeito de nada que se refere à morte… O paciente à morte não é visto como uma pessoa viva, e assim não se pode falar com ele como tal. É um símbolo incômodo do que teme todo ser humano e daquilo que todos sabemos que teremos de enfrentar um dia, e do qual temos muito medo…
…Porém, para mim, o medo é hoje e a morte é agora. Vocês entram e saem do meu quarto, dão-me remédios, verificam minha pressão… Vocês parecem apavorados. E seus terrores aumentam o meu. Porque estão apavorados? Eu sou a única que está morrendo!
Sei que se sentem inseguros, não sabem o que dizer, não sabem o que fazer. Mas, por favor, acreditem em mim: se vocês se importam, isto não pode estar errado. Apenas admitam que se importam. Isto é realmente o que queremos. Podemos pedir pelos porquês, mas na verdade não esperamos respostas. Não fujam… esperem… tudo o que quero saber é que haverá alguém para segurar-me a mão quando eu precisar disso. Estou com medo… a morte pode ser rotina para vocês, mas é novidade para mim. Vocês podem não me ver como única, original, mas eu nunca morri antes… para mim, essa vez é absolutamente única!..
…Tenho montes de coisas para conversar com vocês. Na verdade, não lhes tomaria muito tempo pois, de qualquer maneira, vocês estão aqui mesmo…
Se ao menos pudéssemos ser honestas, confessar nossos temores, tocar-nos… Se realmente se importassem, perderiam muito de seu precioso profissionalismo se chorassem comigo? Apenas pessoa com pessoa? Então, poderia não ser tão difícil morrer… num hospital… com amigos por perto.”
(texto extraído de American Nursing, 1970, citado por Ziegler, 1977).
Sempre eu vejo alguém enxugando uma lágrima furtiva… quando não sou eu mesma que tenho que respirar fundo prá voz não tremer muito.
Quando eu me coloco no lugar de alguém que sofre, o meu doente, por exemplo, impossível continuar frio e distante.
Vale como sugestão a todos os profissionais da saúde…
Graça Mota Figueiredo