Olhando a agenda de planejamento diário da Sociedade de São Vicente de Paulo que usei, vi frases maravilhosas proferidas por grandes personagens da História. Seria impossível relatar todas aqui – são quase quatrocentas! –, mas, apenas como referências, eis algumas bonitas:
“Fazei-vos servos uns dos outros pela caridade” (Gal 5, 3).
“Deus quis que não recebêssemos nada que não passe pelas mãos de Maria” (São Bernardo).
“Quem não ama não descobriu a Deus, porque Deus é amor” (1ª João 4, 8).
“Acender o fogo do amor divino em todas as pessoas é continuar a missão do Filho de Deus” (São Vicente de Paulo).
“Há mais felicidade em dar do que em receber” (At 20, 35).
“Vós, pobres, sois para nós a imagem sagrada deste Deus que não vemos e, não sabendo amá-Lo de outro modo, nós O amaremos em vossas pessoas” (Antônio Frederico Ozanam).
“Progredi na caridade, segundo o exemplo de Cristo” (Ef 5, 2).
“A glória de Deus é que o pobre viva” (Mons. Oscar Arnulfo Romero).
Dá para imaginar a motivação para servir o próximo quando eu abria a agenda e lia mensagens como estas? Acredito que o meu coração foi educado a tal ponto que estou mais perto de atender plenamente a este chamado do Papa João Paulo II:
“Voltemos nossa mente e nosso coração para São Vicente de Paulo, homem de ação e de oração, de organização e de imaginação, de comando e de humildade, homem de ontem e de hoje. Que aquele camponês das Landes, convertido pela graça de Deus em gênio da caridade, nos ajude a pôr mais uma vez as mãos no arado – sem olhar para trás – para o único trabalho que importa: o anúncio da Boa Nova aos pobres.”
Aproveitando o assunto, uma história árabe diz que um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Logo que despertou, mandou chamar um adivinho para interpretar seu sonho.
– Que desgraça, senhor! – exclamou o adivinho. – Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade.
– Mas que insolente! – gritou o sultão, enfurecido. – Como te atreves a dizer-me semelhante coisa? Fora daqui!
Mandou, então, que trouxessem outro adivinho e lhe contou sobre o sonho. Este, após ouvir o sultão com atenção, disse-lhe:
– Excelso, senhor! Grande felicidade vos está reservada. O sonho significa que havereis de sobreviver a todos os vossos parentes.
A fisionomia do sultão iluminou-se num sorriso e, imediatamente, mandou dar cem moedas de ouro ao segundo adivinho. E quando este saía do palácio, um dos cortesãos lhe disse admirado:
– Não é possível! A interpretação que você fez foi a mesma que o seu colega havia feito! Por que ao primeiro ele expulsou do palácio e, a você, pagou uma fortuna?
– Lembra-te, meu amigo, tudo depende da maneira de dizer as verdades. Um dos grandes desafios da humanidade é aprender a arte de comunicar-se. Da comunicação depende, muitas vezes, a felicidade ou a desgraça, a paz ou a guerra.
Que a verdade deve prevalecer em qualquer situação, não resta dúvida, mas a forma como é comunicada tem provocado, em alguns casos, grandes problemas. A verdade pode ser comparada a uma pedra preciosa: se a lançarmos no rosto de alguém, pode ferir, provocando dor e revolta; mas, se a envolvemos em delicada embalagem e a oferecemos com ternura, certamente será aceita com facilidade.
A embalagem, nesse caso, é o carinho, a compreensão e, acima de tudo, a vontade sincera de ajudar a pessoa a quem nos dirigimos. Antes de ‘jogarmos na cara de alguém o que julgamos ser uma grande verdade!’, seria prudente rezar, dize-la diante do espelho e, conforme for a própria reação, podemos seguir em frente ou adiar o nosso intento – evitando conflitos desagradáveis.
Juntando agora as partes deste artigo, posso concluir que existem dois tipos de verdade: a primeira, está contida no Evangelho e, a segunda, está dentro de cada um de nós – podendo ser aceita ou contestada por outra pessoa.
Eu jamais discuto a ‘Verdade das Escrituras’ e nem as frases proferidas pelos santos; apenas as aceito e sempre procuro incorporá-las em minha vida – são mensagens que recebo de Deus! Quanto à ‘verdade dos homens’, procuro avaliar a intenção de quem a diz e a consequência provocada pelo seu impacto nas pessoas. Em muitos casos, todo cuidado é pouco para ouvir e falar.
O importante é ter sempre em mente que a Verdade de Deus nunca causará prejuízo a ninguém e continuará no nosso meio para educar todos os corações. Portanto, por que não adequarmos as nossas ‘outras verdades’ à vontade Daquele que nos criou? Para isso, não é preciso ser adivinho, mas é necessário agir com sabedoria. O aprendizado está na Bíblia, na santa Missa, nas agendas católicas, enfim, nas lições que vêm do Céu.
Concluindo, quem poderá contestar a Verdade do Evangelho no Sermão da Montanha? Disse Jesus: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça… os misericordiosos… os puros de coração… os que promovem a paz… os que são perseguidos por causa da justiça… porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5, 3-12).
Amém!
Prof. Dr. Paulo Roberto Labegalini é engenheiro graduado pela Faculdade de Engenharia Civil de Itajubá, especializado em Matemática Superior pela Faculdade de Filosofia e Letras de Itajubá, mestre em Ciências pela Escola Federal de Engenharia de Itajubá e doutor em Qualidade pela Escola Politécnica da USP.
É autor de 7 livros e mais de 100 artigos publicados nas áreas de gerência geral, qualidade e educação; professor do Instituto Federal Sul de Minas em Pouso Alegre; e vicentino na Comunidade Nossa Senhora do Sagrado Coração em Itajubá. Confira sua coluna “Mensagens para o Coração”.