Talvez seja assim mesmo que prefiram a situação, pois se a educação for encarada seriamente e colocada em prática, nossas crianças e nossos jovens aprenderão a pensar, a respeitar os outros e a si mesmos, aprenderão a viver. E aprender a pensar implicará em grande perigo para aqueles que detém o poder e que preferem um povo fraco e imbecilizado.
Os problemas são tantos na educação que só desmanchando tudo e começando de novo, do zero. Há dois anos escrevi uma crônica repudiando a cartilha aprovada pelo Ministério da Educação que instruía as escolas a permitirem o português com erros de concordância. Fui bombardeada por uma tempestade de comentários contrários, inflamados de indignação. Eu enfatizava que os alunos podem aprender a concordância e muito mais sem que sejam necessariamente ridicularizados, maltratados e traumatizados. Acima de tudo, os jovens podem e devem ser educados de tal maneira que se tornem aptos a transformar a informação e conhecimento ensinados na sala de aula em conhecimento prático da vida. Mas a situação chegou num ponto que não se trata mais de aprender a concordar verbo com sujeito, nem sujeito com predicado, mas de aprender o mínimo de respeito com o professor, aquele pobre diabo que ganha pouco para ensinar.
Conversei com uma amiga do Paraná que desistiu do magistério. Depois de algum tempo tentando ensinar para turmas de jovens mal educados e descontrolados, ela percebeu que se insistisse, poderia ser alvo de agressões, pois ameaças não faltaram. O deboche e a arrogância eram tais que alguns alunos viravam suas carteiras de tal forma a darem as costas para a professora e ficavam rindo descontroladamente. Alguns preferiam sentar-se no chão, manipulando celulares, jogando e conversando. Evidentemente que minha amiga tentou, falou, argumentou, exerceu sua autoridade, pôs os piores alunos para fora da sala, mas a orientação da diretoria, que por sua vez devia receber orientação de cima, era que ela deveria “passar de ano” todos os alunos, capacitados ou não. E quanto ao comportamento dos jovens, bem, ela deveria ignorar e ensinar para os que quisessem aprender. É verdade que ainda há alguns poucos que querem de fato aprender, mas no meio da balbúrdia geral, é impossível, pois são imensamente prejudicados pela esmagadora maioria dos maus colegas.
Os pais são chamados e o que acontece é que eles sabem que os filhos não são anjinhos, mas não têm i-d-e-i-a do que são capazes, pois os jovens enganam seus pais com muita facilidade. A escola tem medo dos alunos, os pais têm medo de seus filhos e os professores têm muito medo do que pode acontecer com eles, haja vista o que se vê nos noticiários. A julgar pelo andar da carruagem, não sobrará professor sobre professor para contar a história. Chegará o dia em que todos, a despeito de sua genuína vocação, abandonarão a profissão, seja por medo de ameaças ou pelo parco salário que mal dá para sustentar suas famílias.
Sobre o comportamento dos alunos em sala de aula, posso falar com conhecimento de causa porque há poucos anos terminei meu curso de Letras. Fiz questão de fazer os estágios obrigatórios nos mais diversos colégios da cidade, públicos e particulares, justamente para me certificar do que realmente acontecia. Sinceramente não vi diferença entre as escolas no que se refere à incrível falta de respeito para com os professores. Em determinada turma e colégio, vi namorada sentada no colo do namorado que displicentemente, tirava fotos do casal, entre cócegas e beijinhos. Vi diversos alunos atendendo celulares, vi alunas, moças respondendo com brutalidade à professora, que se esforçava para conter um choro de desespero diante do caos provocado pelos jovens. Minha decepção foi total.
E depois, os pobres e nobres alunos, protegidos pelo estatuto do adolescente, da criança, da juventude, ONGs e o diabo a quatro, não podem aprender a falar e escrever corretamente porque o professor e toda a sociedade têm que respeitar os digníssimos pupilos para que não sejam feridos em sua sensibilidade e dignidade. Ora, faça-me o favor! A consequência disso é que os alunos estão escrevendo receitas culinárias em suas redações, debochando da sociedade, exagerando seus erros que já não são poucos.
E o governo continua insistindo em virar as costas para a educação e pagar tão mal os professores. Assisti pelo jornal que em Juazeiro do Norte, para que sobrasse mais dinheiro para a manutenção das escolas, foi decidido que as gratificações dos professores seriam cortadas. Os vereadores da cidade que ganham cerca de R$ 10.000,00 aprovaram por unanimidade a medida.
Como foi que chegamos a isso? Escolas depredadas, alunos arrogantes, violentos e sarcásticos com armas de fogo, estiletes e sei mais lá o quê. Não sei para que vão à escola, certamente para outras atividades, para aprender é que não. Os professores perdidos e cheios de medo sonham em deixar a profissão. É de chorar pela agonia e morte da educação. Sim, a educação está em agonia. Melhor que fechem as escolas de uma vez, e que cada família eduque seus filhos em casa, talvez assim muitos pais possam conhecer melhor do que seus rebentos são capazes.