Graduei-me em engenharia numa época de grandes obras; no entanto, a primeira experiência de trabalho, logo depois de formado, foi desanimadora. Eu era um bom aluno e sentia-me capacitado para enfrentar a vida profissional, mas, logo no primeiro projeto, a realidade me mostrou que eu era apenas um presunçoso e assustado recém-formado.
Noites estudando para aprender o que imaginava saber. Inibição e vaidade impedindo-me de pedir ajuda. Amor-próprio e suscetibilidades reagindo ao olhar indiferente dos colegas. Mil preocupações ao assinar desenhos autorizando a execução da obra. Quantas dificuldades uma mente mal alimentada me criou.
Mais adiante, um pouco mais adaptado à realidade, surgiram algumas oportunidades para ensinar em turmas de graduandos e também de substituir um professor na escola onde me havia formado. Retornei ao berço no qual embalara meus sonhos de engenheiro. Como fazer para que os alunos deixassem a escola levando conhecimentos em vez de ilusões?
Esse foi o propósito que orientou as minhas aulas. Sem muita experiência no magistério, contava apenas com muita boa vontade. Mas, nessa época, outro assunto já me preocupava: a educação dos filhos. Bem nesse contexto, recebi um convite para participar de uma reunião sobre Logosofia. Fui e descobri ali que, para ensinar, eu precisava aprender a aprender. Como se faz para aprender alguma coisa?
Sabia que tinha boa memória, mas nada sabia sobre a consciência. O que, pois, distingue a memória da consciência? O que distingue a mente do cérebro? Na cabeça temos cabelos e colocamos o chapéu. E na mente, temos o quê? Colocamos o quê?
Constatei que não conhecia o mecanismo psicológico humano. Concluí que, sem isso, não há como pais e educadores compreenderem as dificuldades dos filhos e alunos. Estava aí a causa dos desvios na forma de educar e ensinar. São coisas diferentes, pois educar é dar exemplo, enquanto ensinar é corrigir; corrigir, no entanto, não é punir: é ensinar o correto com exemplos.
É comum na criança a facilidade para memorizar histórias e poesias. Os que manifestam cedo essa capacidade mental, via de regra, saem-se bem nos primeiros anos de escola. Das poesias ao “dois + dois = quatro”, decoram e reproduzem tudo com facilidade.
Alguns, por terem facilidade para gravar, são tidos como “precoces”. Precoce é também o acesso dos pequenos a histórias e filmes infantis. Vão assim se tornando “consumidores-mirins” desse mercado, enquanto vão sendo desviados para o mundo das fadas, príncipes encantados e sonhos de ser super-heróis. É assim que, depois da capacidade de memorizar, tem início o desvio provocado pela imaginação. Sem nunca ver acontecer, como é possível admitir que falar mentira faz o nariz crescer ou que a vovó saiu viva da barriga do lobo? Só enganando a si mesmas! Puro desvio no uso da imaginação.
Como alimentar essas mentes com verdades, sem prejudicá-las? Faço aqui uma analogia com a amamentação. Se, no começo da introdução alimentar de cada um de nós, respeita-se a capacidade de assimilação do organismo biológico em formação, o contato com a realidade deve também respeitar essa capacidade do organismo psicológico — igualmente em formação. As mamadeiras não são preparadas com um líquido branco qualquer, nem com pimenta “para os bebês irem se acostumando”. As primeiras doses de realidade não podem ser “mentirinhas apimentadas” com aparência de verdades.
O estímulo a decorar e a imaginar inibem a capacidade de raciocinar, e o aprendiz não percebe que está indo por caminhos que conflitam com a lógica. Na universidade, eu observava que, dentre os que optavam pela engenharia, aqueles que tinham mais dificuldades eram os que se haviam habituado a decorar, e, quando esse tipo de aprendiz sente as primeiras manifestações do juízo, fica temeroso diante dos passos que a vida o obriga a dar sozinho. Como evitar que tais desvios aconteçam com aqueles que estão aprendendo?
Antes de ensinar, há que se saber que entender não é compreender. Entender é perceber o efeito. Compreender é conhecer as causas e, para isso, há que se experimentar. Desse modo, não há desvios, pois atua-se na causa e não mais no efeito.
Esse processo, porém, demanda tempo. Por isso, em se tratando de educação e ensino, saber esperar é fundamental. Equilibrando razão e sensibilidade, não tenho dúvida: esse é o caminho para a educação e o ensino.
Um pensamento de Paulo Roberto Arantes