Enquanto aguardava o nascimento da minha netinha Lara, hoje com 13 anos, recordei muito do meu pai e pensei: “Quero que ela conheça o vovô Totó, no amor que ele construiu em nossos corações. Vou contar para ela lindas histórias das nossas vidas.”
Recordei de uma feliz passagem da minha infância, quando morava com meus pais e minhas irmãs na fazenda.
Eu era bem pequenininha e surpreendi-me com um presente que meus pais trouxeram em uma de suas idas à cidade. Duas pulseirinhas de ouro, lindas! Uma para mim e outra para a minha irmãzinha.
Eu adorava ver a minha pulseirinha, brilhando e enfeitando o meu pequeno braço, misturando-se com os pelinhos dourados. Recordo que sempre admirava e experimentava uma sensação gostosa de gratidão por aquele presente tão especial.
Um dia, minha pulseirinha arrebentou e caiu. Fiquei triste, chorei muito e corri para mostrar ao meu pai, que logo me acalentou em seu colo gostoso, quentinho e grandão, onde me sentia protegida.
Na mesma hora, ele pegou um toco de madeira e um prego, furou a plaquinha da pulseira, prendeu com o segundo gancho e colocou-a em mim.
Eu encantei-me com aquela atitude ousada de meu pai, e fiquei muito feliz ao ver novamente minha pulseirinha brilhando em meu braço. Experimentei segurança e proteção!
Naquele abraço que recebi, enchendo-me de alegria, tive a certeza de que meu pai estaria sempre ao meu lado, para me amparar e proteger.
Que sensação gostosa tenho guardada em meu mundo interno! Posso experimentá-la toda vez que recordo desse pedacinho da minha infância com meu pai. Quanta gratidão!
Guardei com muito carinho aquela pecinha preciosa por toda a minha vida. Um dia, recordando desse fato, pensei: “Vou dar minha pulseira de presente para a minha primeira netinha.” Que ideia feliz! Levei para o joalheiro polir e mandei colocar um pequeno diamante no buraquinho que meu pai fez com o prego. Contei essa história em uma longa carta que escrevi a ela, dizendo que aquela pedrinha brilharia sempre, para nos fazer recordar este ser querido que nos ensinou a amar de verdade.
Sentia que aquele gesto simbolizava algo que se eternizava dentro de mim!
Tive a certeza de que ela iria ficar feliz quando conhecesse essa história, que agora faz parte da vida dela também. Hoje, com 13 anos, sempre conta essa história, encantada!
Aprendi com o estudo dos ensinamentos logosóficos a valorizar as experiências vividas e guardá-las na recordação, para que seja possível acessá-las com a consciência do valor de cada uma e experimentar, quando quiser, o sabor da essência que ficou registrada na mente e no coração, como vida que pulsa dentro da vida.
“Uma vez enriquecidas as inteligências dos que se ilustram no conhecimento logosófico, abrem-se às suas possibilidades novos e mais amplos horizontes mentais. Isto produz um deleite espiritual inexpressável, que é o de sentir a vida palpitar com felicidade em meio a gratíssimas emoções; emoções que a consciência se encarrega de prolongar em frequentes evocações que se conectam a novas experiências felizes.” ICL/374§1
Guardo este pedacinho feliz da minha infância no meu mundo próprio e faço, desta doce experiência e de muitas outras, um elo com o meu pai, toda vez que experimento, com consciência, o amor que nos une.
Assim, continuo vivendo com ele, espiritualmente, cultivando sempre a gratidão a Deus por ter a ele tão presente em minha vida e na vida dos meus filhos e netas.
Um pensamento de Cirene Borges Barra
Cirene é professora, nasceu em Uberaba, MG, onde estudou até o ensino superior. Estuda e é docente da Logosofia em Uberlândia desde 1992.