Muito se tem ouvido falar que no Brasil não existe uma cultura equestre . Fala-se muito da Americana, das grandes escolas européias, dos Mongóis e muitas outras. Pouco se fala da nossa saga equestre pelo imenso território nacional.
Realmente, na América não existia cavalos na época da chegada dos colonizadores europeus. No século XVI e XVII as primeiras tentativas de ingressar pelo interior do continente americano foram frustradas pelas dificuldades naturais. Os homens pereceram mais os cavalos não. Eles foram adaptando a nova terra e logo formaram numerosas manadas de cavalos selvagens. Os nativos que a princípio temeram o animal desconhecido, logo aprederam a se aproximar deles e formaram a simbiose, ou seja, o centauro, do mesmo modo que os nômades das estepes da Ásia Central, da forma natural, convivendo com eles. Tanto nas pradarias da América do Norte como nos pampas da América do Sul, criou-se pelas mãos dos nativos uma grande cultura equestre, onde o cavalo passou a ser parte fundamental de suas existências.
No Norte, os índios americanos que também tinham uma cultura nômade, usavam o cavalo para o deslocamento, para a caça do búfalo e para a guerra. Dificultaram, e muito, o domínio do território pelo homem branco que para derrotá-los tiveram de, primeiro eliminar os cavalos e depois usar de políticas sórdidas e traições. Os cavalos selvagens americanos, os mustangs, são famosos pela resistência e velocidade. Foram imortalisados pelo cinema que deu brilho glamour a cultura equestre americana.
No sul , os nativos que habitavam a região do Rio Paraná e Pantanal Matogrocense, os Guaicurús, Também a exemplo dos índios americanos, formaram uma grande cultura equestre, usando o cavalo para tudo, do transporte à guerra. Guerra contra tribos rivais e contra os Portugueses, que aliáis, nunca os venceram a não ser pela trapaça e traição. Porém, pouco é falado deste povo que deu muito trabalho para os colonizadores e que por cem anos cavalgou pelo interior do Brasil e contribuiu para a formação de uma outra grande cultura equestre, a gaúcha.
A partir do século XVIII, começaram a se formar vias apropriadas para a locomoção de cavalos e é aí que nossa saga começa. Formou-se praticamente, de norte a sul do país, corredores por onde trafegavam notícias, mercadorias, e riquesas, tudo feito por equinos. No Nordeste , acompanhando os rios que vinham do interior, forjou-se a cultura do couro, espandida pelos currais que nasciam acompanhando o crescimento das manadas até se fundir com Minas Gerais. Saga contada por João Guimarães Rosa, Darci Ribeiro, Euclides de Cunha e muitos outros em suas obras. Nos Pampas do sul, a cultura do charque crescia e demandava grande contigente de bois e cavalos . Grandes manadas eram deslocadas do Rio Grande do Sul até Vila Rica em Minas Gerais. Muitas são as histórias desta saga equestre, muitos são os legados destes póvos que fiseram a história de nosso país no dorso de um cavalo e que apesar de ricas ficaram relegadas a um plano inferior dos grandes acontecimentos.
Portanto, nossa cultura equestre é tão rica e presente quanto qualquer outra. Ficou marcada pela literatura e pelo folclore e não pela historiografia oficial . Falhas a parte, justiça seja feita, estamos relendo nossa história só que agora, do lombo de um cavalo.