Um amigo artista plástico guardou um quadro inacabado. Muitos anos depois, arrumando o porão de sua casa, viu o quadro como se ele implorasse para ser concluído. Nesse momento, surgiu a inspiração que lhe faltara e a obra foi finalizada. O belo quadro se acha exposto em sua galeria e nenhuma oferta conseguiu tirá-lo do alcance dos seus olhos.
Esse quadro transformou-se para ele num símbolo de realização, cuja presença em seu ateliê o impulsiona a levar seus projetos até o fim.
Assim ocorre com os nossos propósitos. É preciso procurar nos porões do mundo interior os ideais, sonhos e promessas que fizemos a nós próprios, que lá permanecem como quadros inacabados.
Ao reencontrá-los, talvez seja possível completar as pinceladas que faltam para que eles sejam expostos na galeria da alma, como exemplo de obras que dão brilho aos nossos dias e imortalidade às nossas realizações.
Os pensamentos – que são entidades vivas – devem ser aliados dos nossos sonhos, jamais seus opositores. Há os que sugerem: – Desista, você não conseguirá! Às vezes é como estar num congestionamento de trânsito; o sinal verde diz: – Pode seguir! Mas os automóveis à nossa frente não nos permitem sair do lugar. Há momentos em que o coração nos diz: – Prossiga com os sonhos! Mas os pensamentos congestionados tornam a mente confusa e impedem a passagem.
Lembro-me de uma maratona da qual participei. Eu estava bastante cansado e pensei em desistir; mas quando avistei ao longe a faixa de chegada fui tomado pela força necessária para concluir a prova.
Os pensamentos construtivos – que compõem a nossa essência interior – são os que se apresentam nos instantes de desânimo e nos mostram a faixa de chegada. Eles nos dizem: – Você chegou até aqui! Parar por quê? Para triunfar é preciso lutar!
Para que os grandes pensamentos continuem vivos, é preciso que sejam alimentados pela nossa decisão de ouvir os seus conselhos.
O tempo é um rio inquieto, que arrasta em sua correnteza as horas da nossa vida. Se ele é também o fogo que às vezes devora os ideais, pode se converter no suave calor que aquece os sonhos e os torna realizáveis.
O conteúdo essencial da vida se empobrece com os sonhos, projetos e ideais que deixamos sepultados no nosso mundo interno: faltou-nos a força do querer para entregar-lhes a coroa da realização.
Mesmo que os sonhos dos nossos filhos se transformem em nossos próprios sonhos, jamais devemos renunciar aqueles sonhos que brotaram originais no nosso mundo interno.
Viver por um nobre sonho! A vida se torna mais alegre e interessante.
Quando o sonho é a transformação de nós próprios numa bela construção, tudo o que fazemos passa a estar a serviço desse ideal. É assim que a profissão, os estudos, o lazer e os demais afazeres da vida social e familiar se convertem na oficina de escultura do sonho, que dá novo sentido à vida.
O sonho não é apenas uma tarefa, é uma missão.
Convida o ser a ir além e ser mais do que é, porque nasce do espírito e existe para elevar a alma. Cabe à alma enxergar mais alto, tomar o sonho como seu e tornar-se tão grande quanto ele.
Só a partir daí o sonho pode comandar a vida e indicar o céu azul da esperança, onde cintilam os sublimes ideais que dão brilho e essência à existência humana.
Há pessoas que dizem ter perdido seus sonhos, ou que eles ficaram na juventude, quando sonhavam fazer um mundo melhor.
Tenho sugerido a essas pessoas que voltem a estender as mãos a esses seres abandonados no mundo interno e que os traga à tona para respirar. Há sonhos que ainda não morreram, mas estão agonizando. É preciso reanimá-los, fazer respiração boca a boca e massagem cardíaca. É urgente tomá-los definitivamente como filhos perdidos que retornam ao lar.
Os grandes sonhos são inatos; mesmo esquecidos, permanecem a espera do chamado para a nobre missão. Ressuscitados, eles abrem caminho para novos sonhos.
O tempo está fluindo e, muitas vezes, sendo pago com as mais caras moedas: as moedas dos sonhos que deixamos de realizar.
Todos se lembram onde estavam – ou o que estavam fazendo – quando presenciaram ou souberam de grandes acontecimentos: a chegada do homem à lua, o nascimento de um filho, as maiores tragédias, a morte de um ídolo, o nascimento de um grande amor e até a aprovação num concurso público.
O sonho é um acontecimento tão marcante, que jamais deveríamos esquecer o momento do seu nascimento.
Um grande e longo sonho, quando está sendo construído, torna-se imortal. Mesmo que tenhamos que deixar a vida, ele se conservará em nossa essência interior; e certamente voltará a nos inspirar em outra vida até ser realizado, na suprema obra da evolução.
O mundo interno tem se transformado num túmulo de sonhos, onde não há lápides para depositarmos os ramalhetes da derradeira homenagem. A mortalidade infantil na mente humana é indesejavelmente alta, porque muitos sonhos morrem crianças e da forma mais dolorosa, que é de fome.
Nas ruas frias e sombrias, comovemo-nos com os menores abandonados. Mas poucos se dão conta dos tantos menores que deixamos perdidos no próprio interior. São concebidos num instante de inspiração ou euforia, mas logo depois sentem falta do alimento e da proteção que os faria viver.
Tão revolucionário para a história humana quanto a capacidade de acender o fogo foi a habilidade de manter a chama acesa. Não basta nascer um sonho, a sua chama precisa permanecer acesa.
O Criador traçou o horizonte com uma linha reta para nos mostrar que nossos ideais e princípios devem sempre estar inspirados na ética superior, que apóia a retidão das atitudes e torna nobres os pensamentos.