Deparei-me na televisão outro dia com uma entrevista de Marília Gabriela a Pedro Bial. Foi justamente num ponto em que ele falava sobre o deplorável panorama da educação no Brasil. O jornalista se reportava à desinformação dos jovens da atualidade, referindo-se a uma conversa que tivera com alguns integrantes dos BBBs em que ele citava Napoleão. Os jovens perguntaram, um tanto receosos (ou não), quem teria sido o cara. Bial riu às largas e mostrou preocupação com o futuro intelectual da juventude brasileira, como se quisesse, vamos dizer assim, mostrar a sujeira da casa alheia, para esconder a sua própria. Refleti e penso que a educação no Brasil é boa sim, é verdade que sempre se pode melhorar, mas arrisco dizer que os professores são grandes heróis anônimos e que o erro está em casa, no desacerto das famílias e certamente nos deploráveis programas que chegam pela televisão até os jovens. As emissoras, é claro, têm programas bons e instrutivos, mas na balança, os maus pesam e atraem mais.
Evidentemente que não falo e nem posso falar sobre todas as famílias, sobre todas as cidades do Brasil, sobre todas as escolas, colégios e universidades, mas posso falar sobre algumas escolas de nossa cidade. Tendo tido a oportunidade de concluir meu curso superior depois de aposentada, parti para alguns colégios em busca do estágio necessário para concluir o estudo. Propositadamente, cumpri os estágios em escolas diferentes. Conheci escolas particulares, escolas públicas, crianças no Curso Fundamental e jovens no Ensino Médio. Assisti aos professores que ministravam as aulas, estudei o material didático de cada escola e cada vez que terminava uma aula, eu saía desencantada por assistir a tanta indisciplina, tanta falta de respeito. Os professores, dedicados e com boa vontade, eram competentes, mas não podiam dar conta de alunos tão maldosos. Os jovens eram de tal forma indisciplinados, sarcásticos, respondões e audaciosos que perturbavam os professores e uns poucos colegas que tentavam aprender. Vi alunos tirando fotos com máquina digital em plena aula, namorada sentada no colo do namorado, celulares tocando à vontade. O desgaste dos professores era patente.
Repreendiam, tentavam se impor, mas por fim, levantavam os ombros, vencidos. Afinal, precisavam ou precisam do emprego, a despeito do parco salário. Não vi diferença no comportamento das crianças e jovens de escolas particulares e escolas públicas.
Há escolas que não aceitam maus alunos, mas são exceções. Conheço um colégio que após receber uma aluna em período integral durante algum tempo, chamou os pais e dispensou a moça, alegando que o bom resultado era importante para a escola e que lá não era lugar para a menina, que os pais iriam gastar muito dinheiro em vão, além do que a moça poderia ser má influência para outros colegas. Mas há que se ter muita coragem para fazer uma coisa dessas. O que se vê, em geral, são pais reféns de filhos, professores reféns de emprego e escolas reféns do poder de famílias endinheiradas. A educação vai mal sim, seu Pedro Bial, mas não é propriamente culpa do sistema de educação. É sim, o exemplo que chega forte pela TV, com a inutilidade dos BBBs. Espanta ver o mal que tais programas causam na formação e conduta de nossos jovens.
Encerro com uma recomendação (para muitos, fora de moda) de Santa Teresa de Ávila sobre a educação de filhos. Dizia ela: “Se me coubesse dar conselhos, diria aos pais que tenham muito cuidado em escolher as pessoas que convivem com seus filhos nessa idade (a santa referia-se às crianças e aos adolescentes). O perigo é grande porque as nossas inclinações naturais pendem mais para o mal do que para o bem”. Certamente, naquela época, Santa Teresa não poderia imaginar como andariam os jovens de nossos dias. Sem limites e sem direção, eles vagueiam em corpos desnudos, bonitos e malhados, inspirados nos protagonistas dos BBBs que, em ambientes sedutores e luxuosos, representam estranhos personagens desprovidos de quaisquer virtudes e senso de solidariedade. Mais parecem robôs, porém são humanos de mentes embotadas e almas vazias.