O primeiro papa sul-americano, adotando uma postura anticapitalista, conseguiu a façanha de integrar ecologia e desigualdade social, pois os mais pobres são sempre os que mais sofrem. São os que moram em lugares esquecidos, mais vulneráveis aos poluentes atmosféricos, sem saneamento básico, ao lado de lixões, sem o verde dos parques, impossibilitados de ter acesso à agricultura com cultivos esgotados e contaminados. Veja o sofrimento do povo da Somália, forçado a emigrar para outros lugares porque os países ricos saquearam seus mares, destruindo toda e qualquer espécie marinha. Os poderosos não só pecam por destruir a natureza como por deixar famintos os povos que lá vivem e que não têm mais a pesca como meio de sobrevivência.
Portanto, na encíclica “Laudato Sí”, o Papa Francisco faz um apelo à reflexão sobre as questões ambientais, sobre o compromisso a favor do meio ambiente e consequente engajamento a favor dos pobres, sem deixar de chamar atenção das grandes potências e governos irresponsáveis que vivem movidos pela voracidade do capital e acúmulo de riquezas. As providências de preservação do meio ambiente ficam quase sempre relegadas às iniciativas locais de todo o mundo, e que talvez sejam a salvação do planeta.
Outrossim, Francisco nos convida também à reflexão, nos alertando sobre a ruína que o uso indiscriminado da tecnologia moderna e internet pode nos causar, atuando como anestésicos para nossa angústia e temor, nos afastando da benfazeja natureza, das relações e emoções reais e nos oferecendo um melancólico isolamento no mundo artificial.
Não há como separar o homem da natureza, aponta o Papa, inspirado por São Francisco de Assis, de quem escolheu não só o nome, mas a preferência pela simplicidade e pelos simples. Lembra Francisco de que a Terra é a casa comum de todos os homens e que devemos ter cuidado e desvelo por ela. Ao escolher o nome “Laudato Sí”, o Papa faz uma exclamação de louvor a Deus, unindo-se a São Francisco de Assis em seu “Cântico das criaturas”:
“Louvado sejas, meu Senhor com todas as tuas criaturas, especialmente o Senhor Sol que clareia o dia e, com a sua luz nos ilumina …
Louvado sejas, meu Senhor por tua irmã Lua e as Estrelas que no Céu formastes, claras, preciosas e belas …
Louvado sejas, meu Senhor pela irmã Água, que é muito útil, humilde, preciosa e casta …
Louvado sejas, meu Senhor pelo irmão Fogo com o qual iluminas a noite. Ele é belo e alegre, vigoroso e forte …
Louvado sejas, meu Senhor pela nossa irmã, a mãe Terra que nos sustenta e governa, produz diversos frutos e coloridas flores e ervas …”
A encíclica “Laudato Sí” nos lembra da urgência de medidas de recuperação e preservação de nossa casa, a Terra. Assisti há poucos dias, a notícia de que jovens americanos já estão protestando contra os combustíveis fósseis, para que às próximas gerações seja mantida a condição de vida digna com a natureza preservada. Oxalá, mais jovens de todo mundo passem também a protestar, exigindo dos governos a responsabilidade de cuidar do Planeta e dos menos favorecidos.
O Papa Francisco está no caminho certo. Ele, como autoridade da Igreja, tem o direito e o dever de mostrar à humanidade que é preciso cuidar não só da vida espiritual como da temporal ainda aqui na Terra para que todos possam ter uma melhor e mais digna qualidade de vida.
Valeu, Papa Francisco!