Duas passagens na Bíblia me encantam. Uma delas é quando Jesus é chamado por Maria e Marta para vir em socorro de Lázaro, que estava seriamente doente. “Senhor, aquele que tu amas está enfermo”. Jesus amava Marta, Maria e o irmão delas, Lázaro. Mas Jesus demorou dois dias no mesmo lugar antes de seguir para Betânia. Quando lá chegou, Lázaro jazia há quatro dias no sepulcro. Marta foi ao encontro de Jesus e disse-lhe: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido”. Maria também se lançou aos pés de Jesus, e disse-lhe chorando muito: “Se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido”. Ao vê-la chorar assim, como também todos os judeus que a acompanhavam, Jesus ficou intensamente comovido em espírito, e sob o impulso de profunda emoção. Jesus pôs-se a chorar. Jesus chorou. Pronto, é aqui que me comovo e choro com Ele. Jesus era verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Mas vê-lo agir assim humanamente, como todos nós, é sublime.
Quando vamos a um velório, também ficamos tocados, também ficamos tristes e choramos. Não posso presenciar um choro que também choro. Essa separação, essa tristeza pela perda de alguém é dolorosa, é demasiadamente humana.
Quantas vezes já choramos nesta vida e quantas vezes ainda haveremos de chorar? Só Deus sabe. E agora me vem a lembrança de minha irmã me confidenciando que não pode ver o nome de nossa mãe em qualquer documento ou texto que sente uma imensa vontade de chorar. Também quando minha irmã tomou posse no serviço lá no norte de Minas, com apenas vinte anos de idade: estava ela com duas colegas almoçando no restaurante da pensão quando viu o papai entrando no restaurante. Ela sabia que ele iria lá, mas não o dia e a hora e quando o viu, foi ao seu encontro já debulhando em lágrimas e ele também. Benditas lágrimas de afeição, de amor. Minha mãe diria: ora, que bobagem! Mas ela também se emocionava muito às escondidas, é claro! Como acho divina esta fábrica de lágrimas, este vale de lágrimas que se forma numa secreta fonte subterrânea, um mar de águas salgadas que acorrem quando chamadas. Quem poderá impedir que essas lágrimas saltem dos olhos? Quantas vezes já mordemos os lábios, tentando disfarçar, mas elas ignoram nosso esforço e escorrem por nossas faces, copiosas! Coisas de Deus que em tudo pensou.
Outra passagem que me toca muito é quando Jesus, já no Horto Getsêmani, diz: “Minha alma sente uma tristeza mortal”. Ali, puramente homem, no meio de um abandono extremo e de uma solidão incompreensível, expressões que decorei das “Orações de Santa Brígida”, ele externou o seu sentimento de tristeza mortal. Quantas vezes nós já nos sentimos assim e haveremos de sentir? Com a alma totalmente devastada! Não houve nem haverá ser humano que não tenha sentido uma tristeza mortal.
Santa Tereza de Ávila dizia que quando o sono fugia, ela tinha o cuidado de se imaginar no Horto das Oliveiras fazendo companhia a Jesus, afinal ali, Ele estava sozinho em sua dor, pois os discípulos dormiam. E ela dizia: como Ele não tinha mais ninguém a lhe fazer companhia, talvez aceitasse de bom grado a companhia desta pecadora e pessoa tão ruim que sou. Imagine! E ela nos convida a empregar esta mesma prática para nos aproximarmos de Jesus.
A humanidade de Jesus me comove muito. Muito, muito.