Há regadores de diversos tipos: grandes, pequenos, coloridos, de alumínio, de plástico, modernos, e até uma simples canequinha pode servir para aguar um vasinho de planta na janela. Todos têm a função de dar vida à vegetação, e é o jardineiro que sabe escolher exatamente o regador mais apropriado para cada situação. Se a chuva é pouca e não há mangueira disponível, lá vai o regador cumprir sua tarefa do dia, colaborando com a missão do jardineiro que o conduz.
Na infância, eu passava férias em Monte Sião e gostava de apreciar o lindo jardim na praça da cidade. Ficava impressionado com o capricho das podas, formando bichos nos ciprestes e estrelas nos buchinhos – tudo verdinho, mesmo no inverno! O jardineiro levava a fama, mas o simples regador também fazia a sua parte.
E se imaginássemos que Jesus é o grande jardineiro do Pai, quem seria o regador conduzido por Ele? Antes de responder, é preciso lembrar a missão que Jesus recebeu quando veio a nós: fazer com que todos tenham vida em abundância (João 10,10). Usando uma imagem relacionada com a natureza, podemos dizer que Jesus veio transformar a terra seca e rachada do mundo em um jardim cheio de vida, onde todos possam encontrar as condições necessárias para viver com dignidade.
Então, para formar um jardim em que o povo possa desfrutar amor e paz, nós, cristãos, também recebemos o mesmo envio do Pai. Pelo batismo, assumimos a responsabilidade de nos tornar um só com Cristo e devemos irrigar a esperança junto àqueles de vida mais ressecada, ameaçados pela morte do corpo e da alma. Portanto, somos regadores nas mãos de Jesus!
A missão que cada ser humano tem no Jardim do Reino é singular, intransferível e nenhum outro pode realizar. Para desempenhar as tarefas com sucesso, cada regador precisa ser dócil, abandonando-se nas mãos do jardineiro para que ele o conduza aonde há mais necessidade de água. O lugar não importa, já que o regador confia no seu condutor e estará sempre disponível para servir. Pode ser usado na sua própria casa, no meio de gente abandonada, nas igrejas, nos hospitais e até em outras cidades. O importante é estar sempre cheio, porque regador vazio enferruja e não serve para nada.
E a grande vantagem de sermos regadores a serviço de Deus é estarmos repletos de água da melhor qualidade: Água Viva do Espírito Santo, a única capaz de saciar a sede do mundo! Como a samaritana do Evangelho de São João (4,15), precisamos também dizer a Jesus: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede”.
Mas, antes de querer irrigar as vidas dos outros, todo cristão deve permitir que a sua terra seca se torne um bonito jardim, contendo fontes de água pura, tipo: a escuta da Palavra, a participação na Eucaristia, a vida de oração e a prática da caridade. Somente quem experimenta disso com humildade pode ser conduzido por Cristo.
A palavra humildade vem do latim, que significa ‘filhos da terra’. Refere-se à qualidade daqueles que não tentam se projetar sobre as outras pessoas, nem mostrar ser superior a elas. Humilde também é aquele que reconhece o seu chão, que assume seus deveres e culpas sem resistência.
A humildade dos que vivem na pobreza pode ser vista pelos ricos como fraqueza. Na verdade, é preciso ser muito corajoso para levantar os humilhados que foram jogados ao chão. Também é preciso muita oração para o abastecimento do espírito; e haja água no regador!
Por isso, é bom lembrar que a nossa oração só é acolhida por Deus quando parte de um coração solidário com os oprimidos e empobrecidos. São Paulo, quando velho, preso e condenado à morte, meditou sobre a sua vida (2Tm 4,7): “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé”. É o testamento de alguém que estava com a consciência do dever cumprido e aguardava com humildade e confiança a recompensa de Deus.
Também no capítulo 18 do Evangelho de São Lucas, Jesus mostra a oração humilde de um cobrador de impostos que se apresenta diante de Deus de mãos vazias, mas disposto a acolher a graça: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador”. No mesmo momento, mais à frente do templo, reza um fariseu orgulhoso, autossuficiente, satisfeito pelo que é e pelo que faz: “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de toda a minha renda”. O desprezo pelos outros contaminou a sua oração.
Eis uma grande lição para nós: um esperava a recompensa e, o outro, a misericórdia. Considerando que Jesus já nos trouxe a salvação, resta-nos conquistá-la pela súplica de perdão e prática de boas obras. Não queiramos, porém, nos justificar sempre pelas faltas, mas nos alegrar por sermos bons regadores nas obras da Igreja, pois, segundo o nosso Senhor: “Quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”.
Ø Paulo R. Labegalini
Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre – MG).
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