Em tempos de tecnologias caras acumuladas nos hospitais, nem sempre acessíveis a todos que delas necessitam, quase sempre utilizadas de forma equivocada e desumana, muito mais disponíveis a quem pode pagar por elas, a morte permanece sendo o fato que menos valia tem na vida das pessoas.
A nossa sociedade capitalista moderna pensa em números, que é a forma mais despersonalizada de se pensar sobre o que não nos interessa enfrentar.
Um exemplo? “Aqui no Brasil, estima-se que o suicídio é a terceira causa de morte entre jovens, logo atrás de acidentes e homicídios […]24 suicídios por dia(destaque meu). Por outro lado, o número de tentativas é até 20 vezes maior que isso.” (Fonte:http://www.ipan.med.br/blog.php?ver=106).
Nenhuma referência à dor individual e profunda dos suicidas mal entrados na adolescência, nenhuma menção à culpa das famílias (porque o suicídio deixa um legado maldito de perguntas não respondidas), nenhuma proposta séria de como diminuir a infelicidade dos jovens…
Nenhuma percepção de que se a morte continuar a ser banalizada nos noticiários sangrentos da televisão, de que se as redes sociais se transformarem em locais privilegiados para a visão casual das pessoas sobre mortes violentas nas ruas, poderemos abandonar de vez o desejo de que a morte seja digna e bem cuidada.
Estranho? Nem tanto…
Desde que nascemos, todos os desejos e as ações dos que nos cercam vão em direção a termos uma boa vida. Quando tomamos as rédeas das nossas decisões, aceleramos a corrida pela felicidade e assim andamos sobre os nossos próprios sapatos em busca da melhor vida que possamos ter e legar aos filhos.
Enquanto isso, nem um pensamento sequer para a morte que será, queiramos ou não, o “gran finale” da peça cuidadosamente escrita que foi a nossa vida…
Será porque temos tanto medo da morte, que não podemos dominar como se fosse a Natureza que temos destruído sistematicamente para os nossos mesquinhos propósitos de lucro desumano?
Será por que perdemos a sensibilidade para as pequenas coisas que acontecem ao nosso lado e enchemos os olhos apenas com os bens materiais, a juventude, a beleza física, a riqueza aparente nos carros de luxo?
Será por que andamos às cegas, sem objetivos maiores, com a ética relegada apenas aos livros de direito, sem respeito pelo espírito?
Enquanto isso, as nossas crianças se matam sem nem começarem a viver…