Ao lado do quadro de avisos, onde estavam fixas mensagens motivacionais e indicadores não tão bons, havia um relógio. O movimentar do ponteiro de segundos estava em equilíbrio com o batucar dos dedos nos teclados, os murmúrios dos estômagos vazios e movimentos angulosos dos quatro ventiladores. Os olhos cansados dos homens e mulheres, cinco ao todo, olhavam de uns papeis da mesa para o monitor, do monitor para o teclado, do teclado para o monitor e for fim para um relógio. Todos com fome e com as pernas dormentes, todos ansiosos para que aquela parte do dia acabasse de vez. Mas aqueles dez minutos ainda estavam lá, fosse qual fosse o relógio, o tempo parecia estagnado.
O estômago de uma daquelas pessoas, um rapaz, roncou um pouco mais alto. Ele não deu importância se alguém notara, mal se preocupava com isso. Queria apenas andar em direção à máquina de café para exercitar um pouco as pernas. Ela ficava diante de uma janela que tinha a fantástica vista do estacionamento. Ele odiava café, mas era o que tinha. No entanto não ousou. Tinha ido muitas vezes e já achava que sua chefe estava de olho nele. Ele odiava aquela mulher nervosa e de voz esganiçada, achava até que não gostava dele. Olhou rapidamente para o relógio perto do mural de avisos. Ele o achava desnecessário quando bem a sua frente, num canto da tela, ele podia verificar as horas rápida e facilmente. Nove minutos! Teve vontade de pular para a janela e correr pelo estacionamento caso sobrevivesse. Em vez disso remexeu-se na cadeira nervosamente. O trabalho já estava pronto e ele só queria sair para almoçar. Uma hora de descanso longe de letras e números. Um telefone tocou na mesa ao lado. Oito minutos e 34 segundos. Pegou o fone de ouvido e abriu o aplicativo de música depois de se afundou na cadeira para que a chefe não o pudesse ver. Aí tocou uma bateria e uma voz feminina e sensual encheu seus ouvidos. Ele não pôde evitar.
E ali uma mulher de vestido vermelho surgiu em cima de uma mesa cantando a música. Céus como era bonita! Seios fartos vestido curto e um olhar penetrante. Seus cabelos ruivos balançavam com ela enquanto pulava de mesa em mesa, dançando e cantando derramando copos de água em calendários e deixando cair canetas e blocos de anotações pelo chão. E sua voz … suave e sensual como poucas acelerando o coração do rapaz. Segurando um microfone a jovem performava mexendo o corpo ao toque da música. Luzes coloridas inundavam a chatice do lugar. Dançava só para ele, e apenas ele parecia se dar conta da sua existência.
Quanto a música acabou já eram doze horas e um minuto.
O jovem olhou em volta. Todos já tinham ido embora, inclusive ela.
Ele guardou os fones e saiu rapidamente da sala com o estômago roncando.