Resolvi escrever este artigo porque algumas pessoas que mais rezam por mim são senhoras da melhor idade, e inicio por uma história que corre na internet:
No primeiro dia de aula, nosso professor nos desafiou a apresentar alguém que não conhecêssemos ainda. Eu fiquei em pé para olhar ao redor quando uma mão suave tocou meu ombro. Olhei para trás e vi uma velhinha enrugada sorrindo para mim. Ela disse:
– Ei, bonitão, meu nome é Rosa. Tenho oitenta e sete anos de idade. Posso lhe dar um abraço?
Eu concordei e perguntei:
– Por que você está na faculdade em idade tão avançada?
– Eu sempre sonhei em ter estudo universitário e agora estou tendo um!
Após a aula, caminhamos para o prédio da união dos estudantes e nos tornamos amigos instantaneamente. Eu ficava extasiado ouvindo aquela ‘máquina do tempo’ compartilhar sua experiência e sabedoria comigo. Ela tornou-se um ícone no campus e fazia amigos onde quer que fosse.
No fim do semestre, convidamos Rosa para falar durante o nosso banquete de futebol. Ela pegou o microfone e disse:
– Nós não paramos de amar porque ficamos velhos, aliás, nos tornamos velhos porque paramos de amar. Existem segredos para continuarmos jovens de sucesso: você precisa rir e ter um sonho. Vemos tantas pessoas caminhando por aí que estão mortas e nem desconfiam! Se você tem dezenove anos e ficar deitado na cama por um ano inteiro sem fazer nada de produtivo, ficará com vinte anos. Se eu tenho oitenta e sete e ficar na cama por um ano e não fizer coisa alguma, ficarei com oitenta e oito. Portanto, ficar velho não exige talento nem habilidade. A ideia é crescer feliz, encontrando oportunidades de mudar. E não tenha remorsos. As únicas pessoas que têm medo da morte são aquelas com muitos remorsos.
Uma semana depois da formatura, Rosa morreu tranquilamente em seu sono. Mais de dois mil alunos da faculdade foram ao funeral em tributo à maravilhosa mulher que nos ensinou isto: ‘Nunca é tarde para ser tudo aquilo que você deseja ser’.
Agora, para quem gosta de fatos reais, pode se espelhar na neurologista Dra. Rita Levi-Montalcini, Presidente Honorária da Associação Italiana de Esclerose Múltipla, quando completou 100 anos de vida em 2009. Mas em 1951, veio ao Brasil para realizar experiências de culturas in vitro no Instituto de Biofísica da Universidade do Rio de Janeiro onde, em dezembro do mesmo ano, conseguiu identificar o fator de crescimento das células nervosas. Foi esta descoberta que lhe valeu o Prêmio Nobel de Medicina junto com Stanley Cohen.
Eis uma entrevista que concedeu em 2005:
– Como vai celebrar seus 100 anos?
– Ah, não sei se viverei até lá e, além disso, não gosto de celebrações. Gosto do que faço a cada dia.
– E o que você faz?
– Trabalho para dar bolsas de estudo às meninas africanas. Quero que estudem e prosperem. E continuo investigando, sigo pensando, porque jamais vou me aposentar. Aposentar-se é destruir o cérebro! Possuímos grande plasticidade neural; e quando morrem neurônios, os que restam se reorganizam para manter as mesmas funções, mas para isso é conveniente estimulá-los. Mantenha seu cérebro com ilusões, sempre ativo, faça com que trabalhe e ele nunca se degenerará. A chave é manter curiosidades, entusiasmos, paixões.
– E o que tem sido o melhor da sua vida?
– Ajudar aos demais cada vez mais.
– Já pensou no que faria hoje se tivesse 20 anos?
– Exatamente o que eu estou fazendo! Minha idade não prejudica meu trabalho.
Também a idade de Zilda Arns não a impediu de ajudar o povo do Haiti. Aos 75 anos, morreu trabalhando e servindo o próximo, por amor a Deus. Médica pediatra e sanitarista, fundou a Pastoral da Criança, Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Irmã de Dom Paulo Evaristo Arns, cardeal arcebispo emérito de São Paulo, viúva desde 1978, teve cinco filhos. Para ser indicada ao Prêmio Nobel, Zilda percorreu um longo e dedicado caminho.
Em 1955, começou sua vida profissional como médica pediatra do Hospital de Crianças Cezar Pernetta, em Curitiba. Suas participações em eventos internacionais são diversas: de Angola à Indonésia, Estados Unidos e Europa, Zilda Arns representou a Pastoral da Criança. Proferiu centenas de palestras, acompanhou comitivas brasileiras a outros países, levando a Pastoral para o mundo. Sua participação em eventos nacionais é praticamente incontável; desde 1994 são aproximadamente 27 eventos ligados à Pastoral da Criança e inúmeros outros pela Pediatria.
Tanta dedicação teve seu reconhecimento. Desde 1978, são diversas menções especiais e títulos de cidadã honorária. E da mesma forma, a Pastoral da Criança já recebeu diversos prêmios pelo trabalho que vem sendo feito desde a sua fundação.
Que esse grande exemplo de amor, cidadania e fé possa nos animar a praticar a caridade. Recordo o que me disse o amigo vicentino de Curitiba, padre Maikol: ‘Zilda Arns será santa!’
Ø Paulo R. Labegalini
Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre – MG).
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