Recentemente o desempenho da economia brasileira vem tomando os noticiários e por isso entendemos que é importante trazer esta discussão para quem nos acompanha, uma vez que nem todos estão percebendo esta melhora na renda.
A notícia sobre a economia do país que teve maior relevância nos noticiários nos últimos dias foi a que indicava o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 1,2% no primeiro semestre de 2021 quando comparado com o 4º trimestre de 2020. A notícia veio acompanhada de algumas manchetes otimistas e outras mais pessimistas. Ao final pode restar ao nosso ouvinte a dúvida. Mas afinal, o Brasil está se recuperando ou não?
Entendemos como esta é uma pergunta legítima para muitos, afinal para a maioria da população essa recuperação econômica não está sendo percebida. Portanto, vamos olhar para os dados da economia para entender o que se passa de fato com o nosso país.
As notícias boas são que de fato o PIB que representa toda a riqueza gerada dentro do país em um determinado período de tempo está se recuperando, após seguidos trimestre de resultados negativos consecutivos. A recuperação dos últimos 3 trimestres nos trouxe a patamares de geração de riqueza pré-pandemia, equivalentes ao do último trimestre de 2019, considerando os ajustes sazonais.
Mas nas mãos de quem ficou essa retomada do crescimento? Esta é a principal questão a ser respondida neste momento. Uma vez que a maior parte da população tem notado movimentos em outra direção. Os Gráficos 1 e 2 comparam o crescimento pelas duas óticas possíveis de análise do PIB, o lado da oferta e o lado da demanda. Ou seja, quem está produzindo mais e quem está consumindo mais.
Gráfico 1 – Crescimento do PIB pelo Lado da Oferta – Variação por Grandes Setores da Economia. 4º trim. 2019 vs 1º trim. 2021
Gráfico 2 – Crescimento do PIB pelo Lado da Demanda – Variação por Grandes Setores da Economia. 4º trim. 2019 vs 1º trim. 2021
Dos dois gráficos notam-se pontos muito importantes. O setor que mais cresceu pelo lado da oferta foi o agropecuário, caracterizado no Brasil pela alta mecanização e grande propriedades e por isso tem baixo uso de mão de obra. O segundo setor que mais cresceu, o financeiro, que embora empregue um número razoavelmente grande de pessoas tem alta concentração de renda entre os acionistas do sistema e vem se modernizando em direção à redução do uso de mão de obra. Ambos setores são caracterizados pela alta produtividade, característica desejada na busca por riqueza para o nosso país, no entanto, são atividades concentradoras de renda. Por outro lado, ainda sob a ótica da oferta destaca-se que o setor mais atrasado na retomada é o de outros serviços, este sim o mais intensivo no uso de mão de obra. Destas análises pode se depreender a compreensão da razão pela qual o desemprego continua com números tão elevados e não exibindo indicadores robustos de recuperação, sobretudo para a população de menor renda e comumente associada a setores informais da economia.
Pelo lado da demanda, vista no Gráfico 2, nota-se que o consumo das famílias e o consumo do governo não recuperaram o patamar anterior à pandemia. Enquanto isso a formação bruta de capital fixo tem demonstrado crescimento expressivo. Esta por sua vez associada a crescente mecanização e automação de processos, natural da busca por maior produtividade para os grande produtores, ainda mais em momentos de distanciamento social.
Soma-se ao cenário desalentador para a maior parte da população brasileira, de menor renda, a inflação acumulada nos últimos 12 meses até maio de 2021, na ordem de 8.9%, conforme o IPCA do IBGE. No IPCA os grandes grupos com maiores aumentos são os de transportes, artigos de residência e alimentação, todos com grande peso para a população mais carente (Gráfico 3).
Gráfico 3 – IPCA-IBGE Acumulado 12 Meses por Grandes Grupos
Ao final o que podemos concluir é que a desigualdade no país está em processo de expansão. A economia tem crescido para setores específicos, e tipicamente concentrados, com baixo uso de mão de obra.
Com este breve artigo acreditamos que foi possível contribuir com a compreensão do atual cenário econômico.
Até o nosso próximo painel de Educação Financeira.
Mantenham as precauções com a saúde!
Autores:
Prof. Dr. André Luiz Medeiros
Prof. Dr. Moisés Diniz Vassallo
Prof. Dr. Victor Eduardo de Mello Valerio
DENARIUS – Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira
Instituto de Engenharia de Produção e Gestão (IEPG)
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI).
O painel de educação financeira é uma parceria do programa Conexão Itajubá com o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira (DENARIUS UNIFEI).
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