Graziela Gilioli perdeu seu filho caçula, de 14 anos para uma doença rara, e ela faz uma reflexão lúcida e emocionante sobre a finitude e sobre as escolhas de quem fica. Diz ela que a ordem do universo é que onde há vida há morte e vice-versa, e enfatiza que há beleza nisso. Todavia, esta beleza dos desígnios da vida só poderá ser enxergada se nos afastarmos de nós mesmos um pouco que seja para encontrar um novo prisma, ou uma nova explicação que nos conforte. Ela se refere à morte como um grande silêncio. Graziela traduziu o que eu sinto quando penso na morte de meus pais e de amigos que se foram: um grande silêncio. Um silêncio misterioso que não me deixa mais ouvir sua voz e seu riso. Procuro por elas e só me deparo com o silêncio. Sim, a morte é silêncio.
Graziela diz que o sofrimento é inevitável, obviamente, porém ela aprendeu com a morte do filho que a gente pode escolher o jeito que queremos viver – sendo pessoas felizes ou tristes. Também ficou a lição de que somos frágeis e fortes ao mesmo tempo. Frágeis porque não estamos no controle, não escolhemos o que nos está reservado, por outro lado, somos fortes porque, sem alternativa, aceitamos o que nos acontece. A ideia de que temos uma escolha é fantástica, ser uma pessoa feliz ou triste. Ser feliz talvez seja mesmo a decisão mais difícil e corajosa num momento destes, mas ao mesmo tempo é a decisão mais bela, sem dúvida alguma.
Creio na vida eterna, creio que nossa alma anseia por Deus, ainda aqui, encarceradinha no corpo, como diz Santa Teresa de Ávila. Para quem crê, mesmo sofrendo, a vida aqui é realmente uma rápida passagem para a eternidade. Li um texto muito profundo e bonito sobre dois bebês no ventre de uma mãe. Um deles acredita na vida após o parto e argumenta com o irmão que não acredita. O texto todo é uma analogia sobre a questão da vida após a morte. O bebê que acredita, diz: “eu não sei, mas haverá mais luz do que aqui … talvez poderemos andar com as nossas próprias pernas e comer com nossa boca, sem precisar deste tubo físico (o cordão umbilical)”. O segundo bebê contesta: “se há vida após o parto, por que ninguém jamais voltou de lá?” O bebê que acredita também anseia “encontrar a Mamãe e espera ser cuidado por ela”, ao que o outro rebate: “se a Mamãe existe, onde está ela agora?” E o bebê que acredita redargui: “Ela está ao nosso redor. Estamos cercados por ela. Nós somos dela. É nela que vivemos. Sem ela, este mundo não seria e não poderia existir… Às vezes, quando você está em silêncio, se você se concentrar e realmente ouvir, você poderá perceber a presença dela e ouvir sua voz amorosa lá de cima”
Nossa, gente, é muito lindo! Saber que estamos cercados, envolvidos e alimentados por Deus enquanto esperamos a vida que está por vir. Então, a vida aqui é ainda um “tubo físico”, e mais tarde já não precisaremos dele, e a morte, na realidade é um nascimento, não é? De fato, devemos nos alegrar sempre e sermos sempre gratos à vida recebida de Deus. Minha amiga Virgínia adora dançar. Vai dançar todo sábado, ainda que com os joelhos doloridos e com o coração despedaçado como tem estado o nosso coração por esses dias todos. Mas vamos dançar, e vamos cantar até o raiar da nova vida, afinal podemos escolher ser felizes.