Uma família de tartarugas decidiu sair para um piquenique. Durante a primeira semana de viagem, procuraram um lugar ideal e, por aproximadamente mais duas semanas, limparam a área, desembalaram a cesta de alimentos e terminaram as arrumações. Só então descobriram que tinham esquecido o sal!
Após uma longa discussão, a tartaruguinha mais nova foi escolhida para voltar em casa e pegar o saleiro, pois era a mais rápida de todas. Ela lamentou, esperneou, mas aceitou ir com uma condição: que ninguém comesse nada até que ela retornasse. Todas concordaram.
Três semanas se passaram e a pequenina não voltava. Quatro… cinco… então, na sexta semana de sua ausência, a tartaruga mais velha não aguentou conter sua fome e começou a desembrulhar um sanduíche. Nesta hora, a tartaruguinha saiu de trás de uma árvore e gritou: ‘Viu! Eu sabia que vocês não iriam me esperar. Agora é que eu não vou mesmo buscar o sal!’.
Descontando os exageros, muitas coisas na vida acontecem mais ou menos da mesma forma: desperdiçamos o tempo esperando que as pessoas atendam as nossas expectativas; ficamos preocupados com o que os outros estão fazendo e deixamos de realizar coisas importantes; colocamos a culpa das nossas falhas nas costas de terceiros etc. Se cada um assumisse a responsabilidade dos atos e fizesse bem feito a sua parte, quase todos os problemas do mundo estariam resolvidos, concorda?
E se formos buscar a verdade, na maioria das experiências ruins que vivemos existe pelo menos uma mentira. Na própria história das tartarugas, a menor mentiu para as outras, dizendo que iria buscar o sal quando a intenção era ficar. Mas, e a mais velha, mentiu também? Não fica difícil censurá-la sem considerar um tempo justo de espera? Na verdade, a mentira pode deixar de ser mentira sob certos argumentos… ou acha que estou mentindo?
Bem, vamos a mais uma história:
Numa aldeia, vivia um velho muito pobre mas invejado até pelos reis, pois tinha um magnífico cavalo branco. Ofereciam quantias fabulosas pelo animal, mas o bom homem só dizia que ele não estava à venda. Certa manhã, o cavalo sumiu da cocheira e as pessoas diziam:
– Velho estúpido, sabíamos que um dia o animal seria roubado! Teria sido melhor vendê-lo. Que desgraça!
Mas, serenamente, o velho respondia:
– Não exagerem! Simplesmente digam que o cavalo não está mais na cocheira. Este é o fato!
Quinze dias depois, o cavalo voltou. Ele tinha fugido para a floresta e, ao regressar, trouxe consigo uma dúzia de lindos cavalos selvagens. O povo então disse ao velho:
– Você estava certo. A fuga do animal não se tratava de uma desgraça; na verdade, provou ser uma bênção!
O velho explicou:
– Novamente vocês estão se adiantando. Apenas digam que o cavalo está de volta; se é uma bênção ou não, quem sabe?
E seu único filho começou a treinar os cavalos. Uma semana depois, o moço caiu de um deles e fraturou as pernas. Rapidamente as pessoas se reuniram e julgaram os fatos:
– Velho, foi uma desgraça a chegada dos animais. Seu filho trabalhador perdeu o uso das pernas e, agora, você está mais pobre que nunca.
– Vocês estão obcecados por julgamentos. Não se adiantem tanto! Digam apenas que meu filho fraturou as pernas. Ninguém sabe se isso é uma desgraça ou uma bênção! Um dia, isso nos será revelado.
Aconteceu que, depois de algumas semanas, o país entrou em guerra, todos os jovens da aldeia foram forçados a se alistar e somente o filho do velho foi poupado, pois ainda estava se recuperando. A cidade inteira chorava, porque sabia que era uma luta perdida e a maior parte dos jovens jamais voltaria. Foram até o velho e disseram:
– Você acertou de novo. Aquela queda se transformou numa bênção! Seu filho pode estar aleijado, mas ainda está com você. Os nossos se foram para sempre!
– Vocês continuam julgando? Digam que seus filhos foram forçados a entrar para o exército e o meu não foi. Somente Deus sabe se isso é melhor para cada um deles.
Um dia, a guerra terminou. Quanto aos jovens da cidade que foram lutar… bem, esta história vai longe…
Concluindo o assunto, é importante ressaltar duas verdades:
Geralmente, ‘toda mentira corrompe o espírito do ser humano’ e ‘se espalha muito mais rapidamente do que qualquer boa notícia’. Sendo assim, não seria sensato vivermos somente com verdades? Saiba que isso é perfeitamente possível e nunca trará consequências ruins a ninguém – é uma questão de bons princípios morais e religiosos. Contudo, sempre haverá alguém defendendo a seguinte tese: ‘Uma mentirinha sem maldade de vez em quando, não é pecado!’
Eu não me arriscaria a afirmar isso e, como o velho da história, apenas diria que nunca sabemos quais os maus resultados de cada mentira até que outros fatos aconteçam. Às vezes, uma mentirinha de nada tende a justificar outra e desencadeiam-se grandes injustiças – como muitos já experimentaram.
Se Jesus disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”, se Nossa Senhora foi escolhida para ser a Mãe de Deus pela pureza do coração, se o Papa não diz sequer uma pequena mentira, como justificar uma vida de mentiras? Para nos salvarmos, é melhor nos acostumarmos com as verdades e deixarmos as mentiras para as histórias de tartarugas, de velhos de aldeias etc.