Eis um relato que li esta semana:
“Certa vez, trabalhei numa pequena empresa de engenharia. Foi lá que fiquei conhecendo um rapaz chamado Mauro. Ele era grandalhão e gostava de fazer brincadeiras com os outros, pregando pequenas peças.
Havia também o Ernani, um pouco mais velho que o resto do grupo. Sempre quieto e pacífico, Ernani costumava comer o seu lanche à parte, num canto da sala. Ele não participava das brincadeiras que fazíamos após o almoço e ficava sentado sozinho debaixo de uma árvore mais distante.
Devido a esse comportamento, Ernani era o alvo natural das pegadinhas do grupo. Ora ele encontrava um sapo de plástico na marmita, ora uma pedra em seu chapéu, ora pasta de dente no sapato etc. E o que achávamos mais incrível é que ele aceitava tudo sem ficar bravo.
Num feriado prolongado, Mauro resolveu ir pescar no Pantanal e nos prometeu que, se conseguisse sucesso, daria um pouco do resultado da pesca para cada um de nós.
No seu retorno, ficamos muito animados quando vimos que ele havia pescado alguns dourados enormes. Mauro, entretanto, levou-nos para um canto e nos disse que tinha preparado uma boa peça para aplicar no Ernani. Dividiu os dourados, fazendo pacotes com uma boa porção para cada um de nós, mas havia separado os restos dos peixes num pacote maior, à parte.
– Será muito engraçado quando o Ernani desembrulhar este presente e encontrar espinhas, peles e vísceras! – disse-nos Mauro, que se divertia antecipadamente.
Então, após o almoço, cada um abriu o seu pacote, contendo uma bela porção de peixe, mas o maior ficou por último, e já estávamos quase explodindo de vontade de rir. Como sempre, Ernani sentou-se sozinho, mais afastado da grande mesa. Mauro, então, levou o pacote para perto dele, e ficamos na expectativa do que estava para acontecer.
Ernani pegou o enorme embrulho firmemente nas mãos, o levantou com dificuldades e um leve sorriso no rosto. Foi quando notei seus olhos brilhando de emoção.
– Eu sabia que você não se esqueceria de mim – disse com a voz embargada. – Tenho cinco filhos e uma esposa inválida, que há quatro anos está presa na cama. Estou ciente de que ela nunca mais vai melhorar. Às vezes, quando passa mal, tenho que ficar a noite inteira acordado, cuidando dela. E a maior parte do meu salário tem sido para os médicos e os remédios. As crianças fazem o que podem para ajudar, mas tem sido difícil colocar comida para todos na mesa.
Chorando, continuou:
– Vocês talvez achem esquisito eu comer o almoço sozinho, num canto. Bem, é que fico meio envergonhado, porque na maioria das vezes eu não tenho nada para pôr no meu sanduíche. Ou, como hoje, tinha somente uma batata na minha marmita. Mas eu quero que saibam que essa porção de peixe representa, realmente, muito para mim. Provavelmente muito mais do que para qualquer um de vocês, porque hoje à noite os meus filhos terão, depois de alguns anos, comida de verdade – e começou a abrir o pacote.
Nós prestamos tanta atenção no Ernani enquanto falava, que nem havíamos notado a reação do Mauro. Depois, percebemos a sua aflição quando saltou e tentou pegar o pacote das mãos do Ernani. Era tarde demais. Ernani já tinha aberto o pacote e estava examinando cada pedaço de espinha, cada porção de vísceras, cada rabo de peixe.
Era para ter sido muito engraçado, mas ninguém riu. Todos nós ficamos olhando para baixo. E a pior parte foi quando Ernani, tentando sorrir, falou a mesma coisa que havíamos dito anteriormente:
– Muito obrigado!
Em silêncio, cada colega pegou o seu pacote e o colocou na frente do Ernani, porque, depois de muitos anos, havíamos entendido quem era aquele grande homem.
Uma semana depois, a esposa do Ernani faleceu. Cada um daquele grupo passou a ajudar as cinco crianças e, graças a Deus e ao grande espírito de luta delas, progrediram muito. Carlinhos, o mais novo, tornou-se um importante médico. Fernanda, Paula e Luísa, montaram o seu próprio e bem-sucedido negócio – produzem doces e salgados para padarias e supermercados. O mais velho, Ernani Júnior, formou-se em engenharia e, hoje, é diretor da mesma empresa em que eu, o Ernani e os demais colegas trabalhamos no passado.
Mauro, aposentado, continua fazendo brincadeiras, entretanto, são de um tipo muito diferente. Ele organizou nove grupos de voluntários que distribuem brinquedos para crianças hospitalizadas e as entretêm com jogos, estórias e outros divertimentos.”
Pois é, às vezes, convivemos por muitos anos com uma pessoa e tardiamente percebermos que mal a conhecemos. Nunca lhe demos a devida atenção, não demonstramos qualquer interesse pela sua vida, ignoramos suas necessidades e seus problemas.
Eis o ensinamento de Jesus Cristo: “Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros”. Assim seja!
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Eis o programa de 18 de agosto:
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Livros do autor:
Ø Paulo R. Labegalini
Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre – MG).