De agora em diante não mais teríamos prefeitos, secretários, vereadores, assessores, assessores de assessores, tampouco partidos políticos. A cidade seria agora governada por um conselho de cidadãos, filhos da terra, voluntários, cuja única condição para exercer seus cargos seria o AMOR por sua terra e por sua gente. Os salários dos políticos, até então, inacreditáveis e inimagináveis fortunas que fariam inveja ao pobre tio Patinhas seriam destinados para creches, educação, saúde, estradas, construção de vias férreas (ai que bom seria ter vias férreas!) e outras necessidades reais da população. Os funcionários remunerados seriam aqueles que trabalhassem de fato, gente comum. E também aqueles que tivessem por função a verdadeira utilidade pública, como limpeza das ruas, jardinagem, ensino público, enfim, a administração necessária em geral. E semanalmente, os membros do conselho municipal se juntariam a esses servidores para pessoalmente e efetivamente por a mão na massa, ou seja, cuidar de sua amada terra.
Os partidos políticos estavam extintos. O conselho agora seria composto por cidadãos que tomassem um único partido, o da solidariedade. Incrivelmente, ao contrário do que se pensava, logo surgiram pessoas para o conselho voluntário. Aposentados, estudantes, homens, mulheres, jovens e velhos, todos imbuídos do ideal de bem conduzir a cidade para o progresso e harmonia.
Afinal, uma cidade sem prefeito? Sem secretários, sem vereadores? Sem assessores de vereadores? Seria possível? Anarquia? Fim do mundo? Utopia? Loucura geral? Não, não, apenas um sonho.
Acordei novamente. Olhei pela janela e vi engarrafamentos e pessoas que se arrastavam sob o peso da triste e corrupta realidade brasileira. Olhei para a minha cidade e vi pessoas querendo salários de políticos, sem serem políticos. Vi os itajubenses se indignando. Vi também uma passeata “transparente” com faixas mostrando repúdio pela aprovação do aumento do número de vereadores. Não sei das justificativas do projeto, dizem que é legal. É verdade que a Constituição tudo permite, mas já sabemos que povo unido jamais será vencido.
Anarquias, sonhos e utopias à parte, não há nada de novo debaixo do sol, apenas novos vereadores com novos assessores. Precisamos disso? Bons tempos aqueles em que nesta cidade de Itajubá os vereadores trabalhavam como voluntários! Pobre cidade!