Eu estava cansada de estar constantemente atrasada! Eu estava cansada de correr atrás do tempo!
Houve uma época de minha vida em que eu achava muito bom viver sem horários. Com os filhos já crescidos e independentes, não havia mais tantas responsabilidades além dos afazeres de sempre. E não gostava de me sentir pressionada pelo tempo. Achava que assim eu era livre para dispor do meu tempo do jeito que quisesse.
Mas meu entendimento começou a mudar muito sobre esse aspecto. Eu precisava aprender a ser de outro jeito. Aprender a ser pontual e não ter que viver como se eu tivesse um relógio próprio, que funcionasse a meu critério. Sofria com a repetição de situações em que eu queria ter sido pontual: no compromisso de ontem, de anteontem, em todos compromissos passados.
Quando não se consegue conquistar uma condição, a maneira mais “elegante” (ou mais cômoda?) é dizer que não se quer mudar. Isso é mentir para si próprio. É reconhecer que não se conseguiu, para não se enganar.
Ouço tantas pessoas dizerem que não querem deixar de fumar ou que não querem deixar de beber porque se sentem bem assim. Mas quando se está sozinho consigo mesmo, é possível sentir a imensa impotência por não conseguir: ser diferente do que se é; não conseguir se superar; querer, mas não poder.
Quero me renovar e poder ser quem eu quero ser.
Quero me renovar e poder ser quem eu quero ser. Ser de um jeito só, não é ser, é se limitar a ser sempre o mesmo ser, é não sair do lugar. Sei que a árvore mais forte é aquela que pode curvar-se ao vento sem se quebrar. Quero ser como essa árvore. Estabeleci, então, que teria que conseguir a pontualidade como uma conquista íntima.
Certo dia tive a impressão de que meu propósito ia dar certo. Eu estava pronta para assistir a uma reunião. Fiz de tudo para estar no horário marcado, mas um amigo me interrompeu o caminho e puxou uma conversa no último minuto. Era um assunto importante até, mas minha vontade expressa era não chegar nem um minuto atrasada. Não consegui.
Ao chegar no local da reunião, sentei-me e uma amiga percebeu a minha presença e me fitou com um olhar que quase dizia que meu atraso “não era nenhuma novidade”, mostrando-se resignada com meu modo de ser, e isso me incomodou muito.
Naquele preciso momento entendi tudo. Lembrei do meu propósito, do amigo que me reteve para conversar e compreendi que os semelhantes se atraem. Tanto como eu, ele também era impontual. Aí estava a questão! Essas coisas não acontecem com quem não é impontual. Cheguei à conclusão que os impontuais se atraem. E que seria preciso estar mais atenta às pessoas que se atraem pelos defeitos e não pelas virtudes.
Quem é pontual não atrai pessoas que atrasam, nem acontecem imprevistos de último minuto, nem contratempos. Sabem se antecipar ao tempo e, se esses imprevistos ocorrem, evitam as circunstâncias que causam a impontualidade. Pessoas assim sabem dizer pelo telefone que estão ocupadas, que não podem falar naquele momento.
Eu não sabia fazer o que parece ser tão simples. Só é simples para quem sabe como agir. Para pessoas como eu, que não sabia, era difícil. Meu consolo era que esse tipo de procedimento deixaria de ser difícil tão logo eu aprendesse como atuar. Aí certamente seria mais fácil.
A vida vai nos oferecendo várias oportunidades de superação.
Naquela semana, eu tinha um encontro com meus cunhados para irmos a um casamento. Comecei a me preparar com antecedência. Queria ficar pronta bem antes do evento. Quando saí do banho, meu marido veio com a notícia de que o casamento era às 19 e não às 20 horas. O fato de termos que encontrar meus cunhados uma hora antes, me deixou desesperada.
Eu estava com o cabelo molhado, de toalha amarrada no corpo. Como faria? De um segundo para o outro, passei a estar atrasada em nada menos que uma hora. Logo desta vez, quando eu estava fazendo um esforço para dar tudo certo!
Refletindo depois, percebi que não estava fazendo tudo certo. Os impontuais não se preocupam em conferir por si mesmos os horários dos eventos. Às vezes, por descuido, dependem da atenção dos outros. Minha cunhada tinha conseguido confirmar o horário a tempo e ainda estar no local do encontro às 19 horas. E estava vindo de Niterói para o Rio de Janeiro.
Na hora concluí que teríamos tempo ainda se contássemos com o atraso de praxe dos noivos. Fiz o que pude. O que não consegui fazer, concluí no caminho. Prendi o cabelo e me maquiei no carro, mas foi uma boa sensação de estar conseguindo alcançar finalmente a pontualidade. Naquele momento o foco era esse.
Tinha conseguido vencer minha limitação. Tinha conseguido a flexibilidade da árvore!
Quando chegamos no horário real da cerimônia, eu sabia que não era a convidada mais bem penteada da festa, nem a mais bem maquiada, mas internamente me senti a mais importante. Tinha conseguido vencer minha limitação. Tinha conseguido a flexibilidade da árvore! O exemplo de meus cunhados foi fundamental. Se eles conseguiam, eu também poderia conseguir sempre.
Aprendi a estar atenta para aprender com os bons exemplos na convivência. No limite, poderia ter colocado a culpa do meu atraso no meu marido por não ter sido cuidadoso ao verificar o horário daquele casamento. Mas, por outro lado, sabia que se eu quisesse promover mudanças, eu teria que reconhecer que muitas vezes é fácil colocar a culpa no outro, ao invés de procurar a causa em si próprio. Mesmo que o outro também a tenha.
Com tentativas de relativo sucesso, fui ficando feliz comigo mesma. Mas, aconteceu um episódio que me obrigou a refletir e avançar mais.
Em outra ocasião, eu tinha marcado um encontro com umas amigas. E uma delas era russa. Dessa vez, consegui ser pontual e estava feliz. Durante nossa conversa relatei a felicidade que estava desfrutando com minhas conquistas. E qual foi minha surpresa quando ela me disse, quase se desculpando, que em seu país ser pontual não era sinal de superação e sim resultado da educação. Aquela afirmação longe de me deixar melindrada, me impactou e me levou a refletir.
Eu sempre dei valor às pessoas pontuais. Ainda que nas mais diversas tentativas de ser pontual eu realmente estivesse me educando internamente. Na realidade a educação era também uma questão de superação.
Essa amiga não sabia que eu estava superando um pensamento que me fazia atrasar nos compromissos. Uma deficiência psicológica que movimentava minha imaginação, me fazendo acreditar que eu conseguiria chegar pontualmente nos compromissos. O impontual acredita que o tempo é mais elástico do que na realidade é, e perde a justa medida de seu tempo.
O impontual acredita que o tempo é mais elástico do que na realidade é, e perde a justa medida de seu tempo.
Estudo Logosofia, me preparando para criar dentro de mim mesma um novo ser para viver melhor. Sem dúvida, eu estava aprendendo a ter uma nova educação. O processo de evolução consciente que a Logosofia me ensina, é uma educação integral, por isso, no meu caso, ser pontual não era uma questão de mera formalidade.
Quem estuda Logosofia, estuda a si mesmo. Passa a conhecer as causas de seus próprios problemas para poder superá-los. E a causa, no meu caso, era um modo de pensar. Um pensamento. O pensamento negativo me fazia justificar para mim mesma, que deixar as pessoas me esperando não era um grande problema assim, pois elas poderiam tolerar essa minha falta.
Às vezes, o pensamento me fazia acreditar que minha demora não seria notada, ou mesmo que eu não tinha importância para os demais. Eu não me dava conta que, por uma razão ou por outra, eu estava dispondo indevidamente do tempo dos outros.
Ao me dedicar a esse problema, encontrei um relato de González Pecotche (Raumsol), criador da Logosofia, que fez com que minha conquista em ser pontual tivesse uma dimensão maior. Compreendi que a pontualidade nos compromissos é um sinal de generosidade. E a impontualidade é sinal de egoísmo. E confirmei com isso, que ela também é uma questão de consciência.
Por trás da pontualidade, há o respeito, além da generosidade com o ser que espera.
Por trás da pontualidade, há o respeito, além da generosidade com o ser que espera. Pois se está evitando a aflição desnecessária durante a espera em que se sofre com a expectativa de se o impontual vai chegar ou não. Tempo de espera pode ser tempo de sofrimento para o outro. E que pode ser evitado com a simples consciência do valor da pontualidade.
Tomo tudo isto como um exemplo de um pensamento que gera um comportamento que parece corriqueiro à primeira vista, mas que, como todo pensamento deficiente ou modo de pensar equivocado, precisa ser superado. E a lógica é a mesma para quem quer deixar de ser intolerante, impaciente ou o que for. Sabemos que temos dentro de nós dezenas de deficiências psicológicas a serem superadas, mas temos também dezenas de virtudes que compõem nosso acervo moral. Aumentar virtudes ajuda a dar equilíbrio a nossa conduta.
Quando um ser se propõe realizar um processo de evolução consciente, precisa compreender como funciona o mecanismo de determinado pensamento negativo e encontrar a causa do comportamento e dos erros que incorre, que se repetem em diversas situações da vida e que levam a um sofrimento constante e reiterado a si próprio e a outras pessoas.
Não é por nada que a Logosofia ensina que “a atenção é um sinal de consciência”. É preciso não se distrair e impedir a manifestação do pensamento negativo até vencê-lo em definitivo. Atenção consigo mesmo. E atenção com o próximo. Aliás, Raumsol diz com incrível simplicidade coisas extremamente grandes.
Evidentemente tudo parte da educação. A Logosofia é uma educação superior que ensina a cultivar valores permanentes enriquecendo o ser espiritualmente. Educação que dei para meus filhos e que estou passando a dar para minha neta.